Contra eucalipto, agricultores abraçam rio Camaquã

Luiz Renato Almeida
Agência Chasque

Pequenos agricultores do interior de Encruzilhada do Sul (RS) realizaram neste domingo um abraço ao Rio Camaquã e ao Arroio Caneleira, que estão sendo afetados pelas empresas de celulose que atuam na região.

No dia 24 de janeiro, os agricultores já haviam encaminhado denúncia ao Ministério Público de Encruzilhada do Sul. Eles alertam para os danos ambientais que estão sendo causados por conta da excessiva aplicação de veneno pelas empresas de celulose, como explica Jorge Moreira Neto, presidente da associação de moradores do distrito de Caneleira. “Do outro lado da estrada, estão borrifando veneno numa quantidade absurda. Jogam veneno, matando tudo em pouco tempo”, afirma.

Os agricultores também denunciam que a mata nativa está sendo derrubada, para dar lugar ao eucalipto. A aplicação de veneno serve para eliminar o inço e preparar a terra. Jorge Moreira conta que peixes estão aparecendo mortos no rio Camaquã. “Nós não sabemos a causa, mas coincidentemente há três dias atrás as pessoas viram peixes mortos no Camaquã. É uma coisa que nunca tinha acontecido. Realmente, esse crime ambiental aconteceu, e nós estamos denunciando isso a todo o instante”, afirma.

O agricultor também relata que os fortes ventos na região estão levando o veneno para lugares distantes, e atingindo as pequenas propriedades. “O principal é a aplicação de veneno de forma desordenada. E o vento carrega para tudo quanto é lado. Aqui é uma região alta. Eles aplicam veneno com tratores, esse veneno é carregado pelo vento, atuando em diversas áreas. Quem nunca gostaria de ter um contato isso, está tendo, pelo descuido deles e pela grande quantidade de veneno que aplicam”, diz.

De acordo com os agricultores da região, a empresa que está aplicando veneno numa área de três mil hectares é a Granflor, que seria uma espécie de laranja da Aracruz Celulose, como explica Jorge Moreira. “A que tem aqui a gente não sabe. O pessoal esconde o nome o máximo possível. Pelo que consta, é uma empresa chamada Granflor. Suspeita-se que seja um laranja da Aracruz, mas eles juram que não. Mas há essa suspeita, porque eles fazem isso em outros lugares. Entra uma outra empresa fazendo isso, e daqui a alguns anos aparece um cartaz da Aracruz. Mas eles escondem isso o máximo possível”, diz.

No ato realizado neste domingo, os moradores do distrito contaram com o apoio do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e de estudantes e professores que participam do Projeto Rondon na região. Apesar de lamentar a ausência de autoridades municipais, Jorge Moreira Neto comemora o resultado da atividade.

“Todos os presentes entenderam a necessidade de um movimento, todos se manifestaram para que continuemos essa luta, todos de forma positiva. Até mesmo aqueles de quem não se esperava, por terem ligação com a administração municipal, que até hoje não fez nada no sentido de coibir isso”, afirma.

Além dos moradores do distrito de Caneleira, agricultores de outras comunidades do interior de Encruzilhada do Sul irão encaminhar as denúncias ao Ministério Público Estadual, em Porto Alegre, além do Ibama e da Fundação Estadual de Proteção Ambiental.