Assentados desenvolvem experiências em apicultura agroecológica

Solange Engelmann
Brasil de Fato

Agricultura com proteção do meio ambiente e desenvolvimento econômico e social no campo. É o resultado da experiência das famílias assentadas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), dos municípios de Bituruna, General Carneiro, Guarapuava e Inácio Martins, no Sul do Paraná, que estão produzindo mel agroecológico, plantas medicinais e aprimorando a produção de fruticultura.

A iniciativa é realizada com apoio da Petrobras, por meio do Projeto Colméia, que atua na conscientização e capacitação dos agricultores, estimulando a realização de experiências em sistemas agroecológicos nos assentamentos da região. Para o coordenador do projeto, Valdenir dos Santos, a realização do projeto reforça a viabilidade da reforma agrária, “e mostra que é possível obter renda pela produção agroecológica”. Santos ressalta ainda que o apoio do programa Petrobras Fome Zero foi determinante para os êxitos alcançados.

Com a iniciativa os assentados pretendem garantir a segurança alimentar e a geração de renda às famílias, visando a diversificação, beneficiamento e transformação da produção para um desenvolvimento sustentável. “O projeto surgiu para atender à demanda da produção de subsistência dos assentados, e aos poucos estamos tendo melhorias de vida das familias beneficiadas”, comemora José Acir Cecilio, do assentamento Rosa, em Guarapuava.

A assentada Izolde de Oliveira Brum, do Assentamento Rondom III, em Bituruna, conta que o projeto garantiu uma renda a mais para os camponeses, facilitando o planejamento familiar. “Outra coisa importante é que o trabalho é coletivo, não tem nada individual, são as pessoas que estão se organizando para transformar a realidade”, explica. As atividades do projeto são desenvolvidas por núcleos de produção, formados pelas famílias assentadas, incentivando assim a cooperação. Cada linha de produção conta com cursos de capacitação e assistência técnica. O projeto também promove a realização de trabalhos de campo e intercâmbio entre os agricultores.

O Projeto Colméia é executado pela Associação Regional de Cooperação Agrícola do Contestado (Arcac), apoiado pela Petrobras. Também participam da execução a Associação Imbúia Pesquisas (Asimp) e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), de União da Vitória.

Agroindústria

Além de criar condições para o desenvolvimento da apicultura na região, com o projeto os assentados estão construindo duas agroindústrias para beneficiamento de produtos apícolas e beneficiamento de frutas. Uma no assentamento Etiene, no município de Bituruna, e outra no assentamento 13 de Novembro, em Guarapuava. O objetivo é industrializar a produção e construir estratégias de comercialização na região e no Estado, além de buscar a exportação para outros países.
Antes do projeto, os assentamentos da região produziam, em média, 12 toneladas de mel por ano. Durante a execução do Colméia, foram criados 18 núcleos de apicultura, com cursos de capacitação, que receberam 483 colméias (caixas) e equipamentos necessários para a produção de mel. Com o apoio do projeto, a estimativa das famílias é que a produção anual chegue a 60 toneladas.

A expectativa é que a agroindústria fortaleça a criação de mercados alternativos para o escoamento da produção, pois, segundo o engenheiro florestal Talles Reis, o comércio na região é monopolizado por uma grande beneficiadora de mel, sediada no município de União da Vitória, que exporta grande parte da produção e paga baixíssimos preços aos produtores. “Muitos apicultores estavam desistindo da atividade e, com a execução do projeto, voltaram a se animar e a fazer investimentos”, diz Reis. A iniciativa também vai beneficiar produtores dos municípios de General Carneiro e Cruz Machado.