Colômbia: nova onda de ameaças a organizações defensoras de direitos humanos

Vinte organizações não governamentais (ONG) colombianas que trabalham em defesa dos direitos humanos, denunciaram na quarta-feira que as ameaças contra seus integrantes aumentaram depois da troca de acusações entre o presidente nacional Álvaro Uribe e opositores de esquerda.

Entre os denunciantes destacam-se a Comissão Colombiana de Juristas, a Assembléia Permanente da Sociedade Civil pela Paz e a Consultoria para os Direitos Humanos e o Deslocamento. Também aderiu à denúncia a Organização Nacional Indígena da Colômbia (ONIC).

O Movimento Nacional de Vítimas de Crimes de Estado, organizações sociais, de direitos humanos, sindicais, políticas, universitárias e mídias alternativas, receberam “uma nova ameaça assinada por supostas frentes paramilitares, que se denominam Nova geração Águias Negras”, explicam as ONGs numa declaração mencionada pela agência EFE.

As organizações explicaram que o crescimento das ameaças “coincide com indicações do presidente contra organizações sociais, políticas, defensoras de direitos humanos”. Lembraram que no fim de semana Uribe chamou de “terroristas vestidos de civil” os parlamentares de partidos de esquerda, que pertenceram à dissolvida guerrilha Movimento 19 de Abril, principalmente o senador Gustavo Petro, do Polo Democrático Alternativo.

Esse partido é a principal força opositora na Colômbia, que por sua vez denuncia que Uribe possui vínculos com os paramilitares das direitistas Auto-defesas Unidas da Colômbia (AUC). As organizações ameaçadas lideram abertamente as denúncias sobre a impunidade que há no processo de negociação entre o governo de Uribe e os paramilitares.

Por isso as ONGs pediram que “se investigue profundamente a responsabilidade de políticos dos partidos tradicionais, funcionários públicos e associações econômicas”. O processo de desmobilização dos paramilitares das AUC foi realizado com a Lei de Justiça e Paz, promovida por Uribe e em vigor desde julho de 2005.

Essa norma tem sido muito criticada na Colômbia e também pelo exterior, especialmente por grupos defensores dos direitos humanos e por vítimas do conflito interno do país, inclusive organizações indígenas. As críticas coincidem em que a lei não garante os princípios de verdade, justiça e reparação, porque, entre outros motivos, estipula penas de poucos anos de prisão para os responsáveis de crimes contra a humanidade, como o genocídio, e porque não obriga os culpáveis a declarar todos seus delitos.

As ONGs denunciantes também falaram de declarações realizadas pelo ex-chefe das AUC, Salvatore Mancuso, preso numa cadeia do departamento de Antioquia. Mancuso afirmou que comandos das AUC desmobilizados estão se rearmando e já contam com mais de 5 000 combatentes.

“O chamado processo de negociação e desmobilização (dos paramilitares) não desmanchou realmente suas estruturas, que hoje continuam intactas”, concluem as ONGs.

Finalmente fazem um chamado “à comunidade nacional e internacional, para que se dirijam às autoridades colombianas, afim de exigir que se garanta a integridade física e psicológica de todos e cada um dos membros que fazem parte das organizações sociais”.

Fonte: Radio Mundo Real
http://www.radiomundoreal.fm/rmr/?q=pt/node/21484