Saga de Canudos será contada em cidades e assentamentos pelo país

Teatro como instrumento de reflexão social. Esse é um dos conceitos que norteiam as apresentações da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, de Porto Alegre (RS). Com o espetáculo “A Saga de Canudos” eles percorreram em março cidades e assentamentos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul para apresentar um pouco dessa histórica.

Para a atuadora Carla Moura é preciso nos apropriarmos cada vez mais de ferramentas como o teatro para discutir o que realmente nos interessa. “Precisamos, de uma maneira coletiva, parceira, fazer crescer o teatro como um instrumento de luta, no sentido de conseguirmos construir a sociedade que queremos”, afirmou.

O projeto conta com o apoio da Caravana Funarte/Petrobras e conta com a parceria do MST. A parceria com o MST é antiga no Rio Grande do Sul, tendo gerado a criação de um coletivo de teatro entre as duas organizações, o “Teatro do Povo”.

“O teatro, assim como a arte em geral, é um meio de transformar o indivíduo, que depois transformará o restante da sociedade. E para que as mudanças ocorram é necessária a união dos trabalhadores do campo e da cidade, que sofrem com os mesmo efeitos da dominação de poucos”, diz Leila Almeida, integrante do setor de cultura do MST.

Serão ao todo doze apresentações, alcançando cerca de dez mil pessoas nas cidades de Passo Fundo e Erechim (RS), Chapecó e São Miguel d’Oeste (SC), Campo Mourão e Londrina (PR), Ponta Porã e Dourados (MS). A peça também será apresentada em assentamentos da Reforma Agrária, nos municípios de Pontão (RS), Dionísio Cerqueira (SC), Rio Bonito do Iguaçu (PR) e Ponta Porã (MS). O grupo de teatro também realizará palestras sobre a trajetória do Ói Nóis, além de oficinas sobre teatro de rua.

Luta pela terra

A “Saga de Canudos” é uma adaptação da peça “O Evangelho Segundo Zebedeu”, do escritor paulista César Vieira, utilizando também textos de Glauber Rocha e da literatura de cordel. A peça conta a história de Antônio Conselheiro, que organizou o povo miserável da cidade de Canudos (BA), em uma sociedade sem desigualdades sociais, de gênero e de raça chamada Belo Monte. O exército, a mando do governo da República, matou praticamente todas as pessoas que faziam parte da comunidade, já que resistiram à ordem de desfazerem Belo Monte. A peça já recebeu duas vezes o prêmio “A Luta Pela Terra”, concedido pelo MST devido à sua contribuição cultural.

Para Carla Moura, o espetáculo ganha um significado especial quando é apresentado para acampados e assentados do MST. “A ‘Saga de Canudos’ é justamente uma etapa dessa luta, que desde a chegada dos europeus aqui no Brasil ela se trava, que é a luta pela terra. Apesar da experiência de Canudos ter sido massacrada porque desagradava todos os coronéis, o governo da época e a Igreja, o exemplo de luta e de resistência que compõe uma sociedade livre de opressão segue vivo. Então, a Saga de Canudos é dedicada aos trabalhadores rurais que tombaram na luta pela terra”, afirma.

A Tribo de Atuadores Óia Nóis Aqui Traveiz, foi criada em 1978 e concentra seus trabalhos de teatro de rua nas periferias de Porto Alegre.

Cronograma das apresentações

Dia 2/03 – Centro de Passo Fundo (RS)
Dia 3/03 – Assentamento Área 9/Comunidade de Nossa Senhora Aparecida (antiga Fazenda Annoni), na cidade de Pontão (RS)
Dia 4/03 – Centro de Erechim (RS)
Dia 7/03 – Centro de Chapecó (SC)
Dia 9/03 – Centro de São Miguel d´Oeste (SC)
Dia 10/03 – Assentamento da COPERUNIÃO, na cidade de Dionísio Cerqueira (SC)
Dia 11/03 – Assentamento Ireno Alves, em Rio Bonito do Iguaçu (PR)
Dia 13/03 – Centro de Campo Mourão (PR)
Dia 15/03 – Centro de Londrina (PR)
Dia 16/03 – Centro de Ponta Porã (MS)
Dia 17/03 – Assentamento Conquista da Fronteira, em Ponta Porã (MS)
Dia 18/03 – Centro de Dourados (MS)