Violência no campo: lavrador é assassinado em Minas Gerais

O lavrador Antonio Joaquim dos Santos, 32 anos, foi assassinado nesta terça-feira, dia 27, quando retornava para casa em companhia da filha de 16 anos, em Canabrava, município e Guaraciama, norte de Minas Gerais. A morte do trabalhador rural é conseqüência dos acirramentos no campo e demonstra a intransigência e a crueldade das transnacionais que atuam na região.

Antonio era casado e pai de quatro filhos. Ele foi assassinado covardemente por um guarda armado da Vallourec Mannesmann (VM) –– empresa que vem plantando milhares de hectares de monocultura do eucalipto no Norte de Minas Gerais. Este assassinato é um desdobramento de um violento processo de expropriação das populações tradicionais do Norte de Minas em virtude da expansão da monocultura do eucalipto na região.

Segundo informações obtidas na comunidade, o assassinato aconteceu na terça-feira, por volta das 21 horas, quando Joaquim junto com sua filha de 16 anos retornava para casa após coletar lenha para ser utilizada em sua residência. Dois guardas armados contratados pela VM, conhecidos como Claudinei e Joãozinho de Carmina, prenderam Antonio Joaquim e arrastaram junto com sua filha para dentro da área da VM, agredindo-os e ameaçando de morte a adolescente. Joaquim foi amarrado a uma árvore, e depois de bastante agredido recebeu dos guardas dois tiros na boca na presença da filha.

Este fato aconteceu em uma das plantações de monocultura do eucalipto certificada pelo FSC – Conselho de Manejo Florestal – que teoricamente garante um manejo ecológico e responsabilidade social. Há muitos anos a Rede Alerta contra o Deserto Verde, uma rede que luta contra a expansão indiscriminada das monoculturas do eucalipto no Brasil, vem denunciando a VM em virtude do impacto ambiental, social e econômico de suas plantações.

No ano passado a comunidade de Canabrava fez uma denúncia internacional relatando o seu sofrimento e a falta de alternativas, entre estas o desmatamento dos cerrados provocado pela empresa deixando a comunidade sem acesso à lenha e às frutas nativas além do secamento do rio Canabrava. A resposta da VM foi a de aumentar a pressão sobre a comunidade que vivia desde então aterrorizada com as ameaças da milícia que pressionava inclusive quando as crianças, de volta da escola, traziam pequenos feixes de lenha na garupeira de suas bicicletas.

Esta não é a primeira vez que membros da comunidade de Canabrava são ameaçados pela milícia armada da VM. Existem diversos relatos e denúncias de apreensão de carroças, de ferramentas de trabalho dos agricultores, e de violência verbal e física contra os moradores. Há um clima de terror na comunidade, com os moradores perdendo o direito de ir e vir em virtude das constantes ameaças.

A Rede Alerta contra o Deserto Verde tem acionou autoridades agrárias e dos direitos humanos para uma intervenção imediata e enérgica contra os desmandos da VM. Entre as autoridades acionadas estão: o Dr. Afonso Henriques de Miranda Teixeira da Coordenadoria de Direitos Humanos, Meio Ambiente e Conflitos Agrários do Ministério Público de Minas Gerais, o deputado Durval Ângelo, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa; o desembargador Gercino José da Silva Filho da Ouvidoria Agrária Nacional; o Dr. Paulo César o Promotor da Bacia do São Francisco, e o Dr. Luiz Chaves do ITER.

Denuncias vão ser encaminhadas também ao FSC Brasil e FSC Internacional para uma cassação imediata do Selo Verde que foi outorgado à VM mesmo sabedores dos impactos ambientais e das condições desumanas que esta empresa vem tratando a comunidade.