Etanol: tanques cheios, às custas de barrigas vazias

Com feixes de cana-de-açúcar nas mãos e lenços amarrados sobre o rosto, as mulheres da Via Campesina entraram na Avenida Paulista para se somar às milhares de mulheres de diversos movimentos sociais que aproveitaram o 8 de março – Dia Internacional da Mulher – para denunciar a violência de gênero e a exploração capitalista.

Este ano as mulheres da Via Campesina levaram as ruas de diversas cidades o lema da “Luta pela Soberania Alimentar e Contra o Agronegócio”. Manifestações e protestos com esse lema foram realizados por todo o país. Além disso, várias ocupações foram feitas nos dias 6 e 7 de março, a maioria em empresas multinacionais que representam a expansão do agronegócio.

A presença do presidente estadunidense George W. Bush no Brasil esquentou ainda mais os protestos, unificando a esquerda brasileira e os movimentos sociais em torno de um mesmo lema: Fora Bush! A pauta anti-imperialista foi marcada principalmente pela luta contra a expansão do agronegócio e, consequentemente dos agrocombustíveis. Uma vez que, essa é a pauta principal das reuniões que estão sendo travadas entre o presidente Lula e o presidente Bush.

Essa semana a Via Campesina lançou um manifesto no qual critica a parceria que está sendo gestada entre Brasil e EUA para a produção dos agrocombustíveis, principalmente o etanol, proveniente da cana-de-açúcar. A crítica, no entanto, não é contra o desenvolvimento do agrocombustível, que como todos sabem, é menos poluidor do que os combustíveis fósseis. Mas sim ao modelo de produção que se pretende implementar no país, com cultivo em grande escala, baseado na monocultura.

A monocultura é hoje um dos principais motivos da degradação do campo. Isso porque além de expulsar os trabalhadores das áreas rurais, é também bastante prejudicial ao meio ambiente. A monocultura afeta o aquecimento do planeta, pois destrói a biodiversidade e impede que a água e a umidade das chuvas se mantenham em equilíbrio com a produção agrícola.

Em várias cidades brasileiras foram realizados protestos. No Maranhão mais de 500 mulheres fizeram uma caminhada pela capital São Luiz, que terminou em frente ao Palácio dos Leões (palácio do governo), onde queimaram um boneco do presidente Bush. O governador do estado, Jacson Lago (PDT), foi ao encontro das manifestantes, vestiu um boné do MST e participou da queima simbólica do presidente estadunidense.

No Espírito Santo, cerca de 500 mulheres camponesas, quilombolas e indígenas fecharam a BR 101, em São Mateus, em protesto à empresa Aracruz Celulose. A principal reivindicação é pela demarcação das terras indígenas e quilombolas no estado. Também houve manifestações em Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Bahia, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Ceará, Brasília e em Mato Grosso. (Confira as matérias das manifestações nos estados).

Ocupações

Além das manifestações nas ruas, a Via Campesina promoveu essa semana, algumas ocupações de empresas multinacionais ligadas ao agronegócio. Na região de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, mais de 900 mulheres ocuparam a área da usina Cevasa, na quarta-feira, dia 7. A usina Cevasa é a maior do Brasil e teve parte de seu capital vendido recentemente para a transnacional Cargill, líder do agronegócio mundial.

Em Belo Horizonte (MG), cerca de 600 as mulheres fecharam, na mesma quarta-feira, a entrada da mina Capão Xavier, MBR Minerações, do complexo de usinas da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Já no Rio Grande do Sul as mulheres ocuparam quatro áreas de terras, na terça-feira, dia 6. As terras são de propriedade das empresas Aracruz Celulose, Votorantim, Stora Enso e Boise, todas empresas transnacionais ligadas ao monocultivo de eucalipto e ao “deserto verde”.