Milho transgênico da Monsanto causa danos à saúde

O milho transgênico da Monsanto, MON 863, autorizado a ser comercializado na Europa, há muito tempo tem causado polêmica sobre sua inocuidade. Mas ontem, dia 13, a revista Archives of Environmental Contamination and Toxicology publicou um estudo indicando que este milho geneticamente modificado é tóxico para o fígado e os rins.

Segundo este trabalho a ingestão do milho MON 863 perturba, em variadas intensidades, numerosos parâmetros biológicos: peso dos rins e do fígado, taxa de reticulócitos (jovens glóbulos vermelhos), de triglicérides, para citar alguns. A composição da urina também se altera com a redução de sódio e de fósforo numa proporção que chega a 35%.

Os efeitos dependem do sexo do animal: “na fêmea se observa um aumento de gorduras e do açúcar no sangue, um aumento do peso corporal e do peso do fígado, associado a uma maior sensibilidade hepática; no macho ocorre o contrário, com uma queda do peso corporal e dos rins” (Séralini, um dos autores do artigo).

Os autores, que fizeram este trabalho encomendado pela própria Monsanto, usaram 400 ratos durante 90 dias. As análises estatísticas foram feitas por especialistas desta multinacional agroquímica, e publicadas em agosto de 2005 pela Food and Chemical Toxicology. Houve diferenças significativas entre os efeitos deste milho MON 863, comparado ao seu isógeno não modificado geneticamente.

Entretanto, os pesquisadores da Monsanto resolveram concluir que as diferenças observadas se achavam dentro da variação natural dos parâmetros observados. E os efeitos deste milho não foram considerados patológicos. Quanto a esta “variabilidade natural”, ela foi estabelecida medindo as mesmas séries de dados em ratos alimentados com outras variedades de milho não modificado, de qualidades nutritivas diferentes do milho MON 863 e de seu isógeno.

Os dados experimentais – mais de mil páginas – foram mantidos em segredo pela multinacional agroquímica Monsanto. Mas a organização Greenpeace os obteve e publicou na primavera de 2005, diante da corte de Justiça de Munster (Alemanha). Assim, os pesquisadores puderam examinar os dados, e lhes aplicar um novo tratamento estatístico. Este consistiu, segundo o pesquisador Séralini, em extrair dos dados brutos os efeitos mais significativos, especificamente os atribuídos à absorção de organismos geneticamente modificados (OGM).

Este pesquisador afirma: “Entre 58 parâmetros avaliados pela Monsanto, os que estão alterados dizem respeito ao funcionamento dos rins e do fígado.” E mais: a Monsanto tinha considerado que, uma vez que machos e fêmeas reagem de maneiras diferentes, não havia motivos de inquietação (…). Ora, o fígado por exemplo, é um órgão que funciona diferentemente no macho e na fêmea. Então, o fato de que a resposta biológica medida não esteja em adequação com a dose de OGM ingerida, foi interpretado pelos especialistas do vendedor de sementes (Monsanto) como prova de que o milho transgênico testado não tinha efeitos…Um princípio contestado por Séralini: “Quando as perturbações são hormonais, o efeito pode não ser proporcional à dose”.

O toxicologista Gerard Pascal, tal como o sr. Séralini, membro da Comissão de Engenharia Biomolecular (CEB), julga erradas certas conclusões. Ele afirma: “Eu recuso a análise das curvas de peso dos animais, que não levam em conta a sua alimentação. Mas eu estou de acordo sobre o fato de que as respostas biológicas possam variar entre machos e fêmeas; e sobre o princípio de que não se deve comparar os efeitos de um milho OGM a não ser com um seu isógeno, sem levar em consideração os efeitos produzidos por outras variedades de milho convencional”.

Segundo Pascal, a inadequação entre a dose de OGM recebida, e os efeitos constatados sobre os parâmetros hepáticos desqualifica as conclusões de toxicidade para o fígado: “Diferenças significativas quanto ao peso dos rins, e as variações de sódio, de fósforo e de potássio urinário, evocam, sim, um efeito renal.” Mas, acrescenta ele, “a CEB promoveu, a meu pedido, às investigações sobre os rins; e não encontrou nenhuma prova de toxicidade” (Le Monde, 15/12/2004). “Restam as variações das taxas de reticulócitos e de eosinófilos (glóbulos brancos)”. E prossegue: “Isto eu não sei interpretar, mas são parâmetros que se modificam muito nos experimentos”. Para Pascal, os elementos aportados não são de natureza a colocar em questão os pareceres favoráveis ao MON 863. “Trata-se de uma interpretação pessoal”, acrescenta o toxicologista.

Estes trabalhos foram financiados por Carrefour e Greenpeace porque, justifica Séralini, “infelizmente não existe hoje financiamento públicos para este tipo de trabalho”. O que é uma pena, segundo Séralini, porque “se deve refazer todo um estudo toxicológico, levando em consideração as dosagens de hormônios” e, principalmente, prosseguir os testes bem além de 90 dias e em outras espécies além do rato, para poder melhor decidir.

Fonte: Le Monde, 14.3.2007 – Tradução de Tadeu Cotta