Assentados iniciam colheita de arroz ecológico

Raquel Casiraghi
Agência Chasque

Assentados da região metropolitana de Porto Alegre mostram que é possível fazer uma agricultura sem utilizar produtos químicos ou sementes híbridas e, mesmo assim, ter rentabilidade na lavoura. Agora em março, os agricultores colhem, pelo quinto ano consecutivo, arroz agroecológico.

A estimativa do MST é de que sejam colhidas 60 mil sacas do cultivo na safra 2006/2007, o que gira em torno de três mil toneladas. O total de área de arroz produzido pelos assentamentos da região, hoje, está em três mil hectares; destes, 600 são agroecológicos. Das cerca de setencentas famílias assentadas na área, 150 produzem arroz sem químicos.

A família do agricultor Huli Marcos Zang, do Assentamento Filhos de Sepé, Viamão, está entre as que aderiram à produção sem químicos. Ele conta que a decisão das trinta famílias do assentamento que plantam arroz agroecológico foi tomada devido às características locais. A região em que o assentamento está instalado é caracterizada por diversos rios que abastecem milhares de moradores da capital gaúcha e municípios vizinhos.

“A gente mora em um assentamento que tem características bastante peculiares: bastante abundância de água, perto do meio urbano e dentro do assentamento tem uma área de refúgio silvestre. E antes de virar assentamento, essa era uma área que sempre produziu e sempre foi planejada para produzir arroz, mas arroz convencional, com muito uso de herbicidas, muito veneno. E a gente veio para cá já com a discussão de produzir de forma agroecológica”, diz.

As vantagens de produzir sem químicos são várias. Huli afirma que a técnica não degrada o meio ambiente, não polui as águas da região e também não é nociva para a saúde dos produtores e dos consumidores. Ainda há o aspecto econômico, já que o custo da lavoura com os tratos culturais é baixíssimo e o preço do arroz agroecológico está mais valorizado do que o convencional. De acordo com dados do Instituto Riograndense do Arroz (Irga), o custo de uma lavoura de arroz convencional gira em torno de R$ 3 mil por hectare. No sistema agroecológico, os assentados têm gasto por volta de R$ 1 mil por hectare.

“Porque a gente consegue ser autônomo: produzimos a nossa semente, não precisamos comprar outros insumos nas agropecuárias e ficar dependendo das multinacionais. A gente consegue produzir sem depender do mercado. Então, de qualquer forma, a gente produz”, afirma Huli.
Os cuidados técnicos no preparo da terra e durante o plantio do arroz agroecológico são simples. Para Huli, o desafio está em entender o ciclo natural do processo e as deficiências que a terra apresenta devido aos anos de degradação que os insumos químicos e os agrotóxicos utilizados anteriormente provocaram.

“A parte técnica da lavoura não dá nem mais e nem menos trabalho. É importante entender que a produção agroecológica precisa de muita atenção no sentido de cuidar a lavoura, prestar bastante atenção. Não é como a lavoura comercial em que se você vê algum indício de praga, você chama o técnico, que receita um veneno. Na lavoura agroecológica você tem que observar o comportamento, desde o comportamento da terra, quando está iniciando o plantio, até o processo de crescimento da planta; entender o conjunto das relações entre a terra, a planta, a chuva, o sol e a lua. O principal é isso, é ter essa observação”, diz.

A produtividade do cultivo agroecológico é alta mas ainda não chega a ser a mesma que o convencional. Os assentados produzem cerca de 90 sacas por hectare; no sistema convencional, a chega a ser 120 sacas por hectare. No entanto, a expectativa dos agricultores é de que a produtividade do agroecológico aumente com a recuperação orgânica do solo.