Fatia das multinacionais no crédito do BNDES já alcança 24%

Quase 24% do total de recursos desembolsados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no ano passado foram concedidos a empresas controladas por capitais estrangeiros. Uma década atrás, em 1995, esse índice não passava de 2,17%. Em valores absolutos, essas liberações aumentaram de R$ 195 milhões para R$ 12,2 bilhões.

A direção do BNDES eliminou a proibição aos empréstimos a empresas estrangeiras em meados dos anos 90. Entendeu-se que o impedimento feria a Constituição, que não faz distinção entre empresas instaladas no país pela origem do capital. Desde então, a participação relativa dessas companhias no total dos empréstimos do banco manteve uma curva quase ininterruptamente ascendente.

Em 2006, os setores de papel e celulose, automobilístico, de transporte aquaviário e de máquinas e equipamentos foram os que mais receberam recursos entre as empresas de capital estrangeiro. O setor automobilístico tem sido um dos principais contemplados pelo banco estatal. Só em 2003 o BNDES aprovou R$ 2,3 bilhões para as montadoras. O setor elétrico também tem sido cliente tradicional, especialmente após as privatizações.

Analistas ouvidos pelo Valor sugerem que as liberações de recursos a empresas estrangeiras foram estimuladas nos últimos anos pela queda da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), referência do custo do dinheiro do banco estatal. Observam, porém, que, apesar de crescentes, os financiamentos às empresas de controle estrangeiro ainda estão longe de ser proporcionais à fatia da produção de bens e serviços que essas empresas detêm na economia brasileira. O capital estrangeiro controla 45% das 500 maiores companhias brasileiras, segundo o economista Antônio Corrêa de Lacerda, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Lacerda também observa que, ao captar recursos para investir em reais, a empresa estrangeira elimina a necessidade de gastar com onerosas operações de “hedge”, feitas para se proteger quando os financiamentos são tomados em moeda estrangeira. O ganho em custos burocráticos e tributários de um empréstimo interno em relação ao externo também não pode ser desprezado.

Valor Econômico