Tiroteio mata Sem Terra em Tocantins

Na última quarta-feira, dia 4 de abril, trabalhadores rurais ligados ao MST foram surpreendidos por tiros quando pescavam no córrego afluente do rio Araguaia (TO). Sob fogo cruzado, os trabalhadores correram e tentaram atravessar o córrego quando perceberam que José Reis, o Zé Preto, de 25 anos, havia sido baleado e caído no córrego.

O trabalhador Antonio Pinheiro Silva – acampado e integrante do grupo – contou que, ao perceber que o amigo havia sido baleado, tentou puxar Zé Preto para fora do córrego, mas não conseguiu. Depois de várias tentativas de encontrar o corpo, teve que se retirar para também não ser atingido pelos tiros. O corpo de Zé Preto foi encontrado pela Polícia Federal na quinta-feira, dia 5.

O tiroteio começou por volta das 15 horas. Dezoito trabalhadores Sem Terra pescavam quando foram surpreendidos pela troca de tiros entre policiais militares e pistoleiros da região. Três dos quatro pistoleiros que participaram do tiroteio já foram identificados pelo grupo. Eles usavam cartucheiras calibre 12 e carabina 38.

De acordo com os acampados, depois que os pistoleiros começaram a efetuar os tiros, os policiais chegaram em uma viatura e começaram a atirar também contra os acampados. Há suspeitas de que os policiais, na verdade, estivessem dando cobertura aos pistoleiros da fazenda em ataque contra os Sem Terra, uma vez que, tanto os pistoleiros quanto os policiais já haviam feito ameaças contra os trabalhadores e suas famílias acampadas. Além disso, enquanto atiravam, os policiais chamavam os agricultores de “bandidos, filho da puta”.

Não se sabe ao certo a quantidade de policiais envolvidos, nem suas identidades, mas um deles se apresentou como sargento Casa Branca ao retornar ao acampamento mais tarde, por volta das 18 horas com outros seis policiais. Segundo os acampados os policiais teriam entrado nas barracas sem mandado de busca e apreensão.

Os trabalhadores e suas respectivas famílias são acampados da Fazenda Santo Hilário, no município de Araguatins, onde permanecem desde 2003 aguardando a desapropriação da área para fins de Reforma Agrária.

Em nota, as famílias do acampamento pediram a agilidade dos processos para a desapropriação da fazenda, a imediata busca do corpo do agricultor José Reis, o Zé Preto e investigação do ocorrido. “Zé Preto, que sendo vítima da morosidade desse processo, e do descaso do Estado na realização da Reforma Agrária, continua vivo no meio dessa luta”, diz a nota.