Indígenas se manifestam contra transposição do São Francisco

Dentro das atividades do Abril Indígena e em preparação ao acampamento Terra Livre, em Brasília (DF), mais de 30 povos indígenas do Nordeste traçam estratégias para defender territórios e agir contra o projeto de Transposição do rio São Francisco. Hoje, dia 13, cerca de 300 pessoas, entre índios e representantes de organizações e movimentos sociais de cidades vizinhas, realizam ato público em Paulo Afonso (BA). Também participaram indígenas das cidades Água Branca (AL) e Nova Glória (BA), além de outros indígenas dos estados da Paraíba e do Ceará.

Em Paulo Afonso (BA), existe um complexo com quatro hidroelétricas da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Chesf). As obras causaram fortes impactos, principalmente entre o povo Pakararu, que tem seu território naquela região.

Durante a semana, mais de 200 índios, dos estados nordestinos de Alagoas, Sergipe, Pernambuco, Piauí, Paraíba, Rio Grande do Norte e Bahia, estiveram reunidos, no Terra Toré, em Carnaubeira da Penha (PE). A atividade aconteceu nas terras sob domínio dos Pankará. O encontro terminou na manhã de hoje e serviu de preparação para o acampamento do Distrito Federal, entre os dias 16 e 19 de abril, e para o planejamento de ações conjuntas. Um dos temas debatidos mais preocupantes foi a Transposição, por causa dos possíveis impactos sócio-ambientais.

O encontro apontou a desapropriação da Serra Negra, localizada no município de Floresta (PE), como um assunto mal resolvido. O local constitui Reserva Biológica, desde 1982, conforme decreto de 20 de setembro do mesmo ano e não pode ser ocupado por pessoas. Entretanto, os povos Pipipã, Kambiwa e Pakararu, entre outros de Pernambuco, tem ali símbolo e referência mística de antigos rituais.

Próximo a Serra está localizado um dos trechos por onde poderá passar o Canal Leste do projeto de Transposição. Os povos pretendem impedir o avanço das obras em seus territórios. Eles se sentem desconsiderados no projeto, até hoje sequer foram questionados sobre o assunto. Além disso, o povo Pipipã argumenta ter direitos sobre a área. Formado por 4.000 famílias, possui o domínio sobre o território ainda não demarcado. O povo Kambiwa está ao lado da Serra com território demarcado.

Na última quarta-feira, 11, representantes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) procuraram as lideranças dos Pipipã e foram levados a Carnaubeira da Penha para dar maiores explicações.

Os povos indígenas são contrários à transposição, não aceitam negociar compensações com o governo federal e desconfiam das recentes investidas do Ibama na região. As lideranças dos povos Truká, em Cabrobó (PE), afirmam não permitir mais a entrada do exército, nas terras indígenas, para organização de trabalhos referentes ao projeto do governo Federal.