Assentados festejam 11 anos de resistência e vitórias no Paraná

Os assentamentos Marcos Freire e Ireno Alves dos Santos, em Rio Bonito do Iguaçú, região central do Paraná, completam hoje, 17 de abril, 11 anos. Os assentamentos têm 1.500 famílias, que vão comemorar com festa, tantos anos de conquista e resistência.

As atividades de comemoração têm como lema “Assentamento que queremos: o que já conquistamos, e o que ainda sonhamos” e estão sendo realizadas na Comunidade Centro Novo, no assentamento Marcos Freire.

Por volta das 9 horas os assentados realizaram uma Celebração Ecumênica, seguido de um Ato Público, e da apresentação do Coral “Filhos da Terra”, do assentamento. Ao meio dia teve início o churrasco, seguido de apresentações culturais com o grupo de teatro “Bambolelê” e artistas da região, que atravessaram a tarde.

A criação dos dois assentamentos contribuiu para o desenvolvimento da economia de Rio Bonito do Iguaçu. Atualmente os trabalhadores assentados geram mais de 10 mil
empregos direitos e indiretos na cidade. Para o coordenador estadual do MST,
Laureci Leal, isso mostra como a Reforma Agrária tem capacidade de resolver os problemas sociais.

Os dois assentamentos são divididos em 27 comunidades, com centros comunitários e espaços de lazer. Antes das famílias Sem Terra ocuparem a fazenda Giacomet, o município de Rio Bonito do Iguaçú tinha cerca de quatro mil habitantes, e hoje o número saltou para 20 mil.

Na mesma data do aniversário do Massacre de Eldorados do Carajás, 17 de abril de 1996, os assentados homenageiam os 19 trabalhadores Sem Terra mortos no Pará em 1996, e celebram as vitórias de mais uma década de luta da maior ocupação do Sul do Brasil.

Conquistas

Durante os 11 anos, as famílias conquistaram 13 escolas, de educação infantil e ensino médio, que funcionam nos dois assentamentos, com cerca de 2.500 alunos. A cada ano os assentamentos produzem em média 500 mil sacas de milho, 50 mil sacas de soja, 50 mil sacas de feijão, 10 mil sacas de arroz, 24 mil litros de leite por dia, chegando a 880 mil litros por ano. Os trabalhadores criam em média 20 mil animais entre: suínos, bovinos e aves, para comercialização e consumo próprio.

Histórico

Na madrugada de 17 de abril de 1996, mais de 3.000 famílias do MST ocuparam o latifúndio da Fazenda Giacomet-Marodim, em Rio Bonito do Iguaçú. Era o início de uma luta de dois anos de acampamento. A desapropriação dos 26 mil hectares da fazenda aconteceu em 1998, quando 1.500 famílias foram assentadas.

O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, um dos mais respeitados fotojornalistas da atualidade, que presenciou a ocupação conta como foi viver esse momento. “Era impressionante a coluna dos Sem Terra formada por mais de 12.000 pessoas, ou seja, 3.000 famílias, em marcha na noite fria daquele início de inverno no Paraná. Os camponeses avançavam em silêncio quase completo. Escutava-se apenas o arfar regular de peitos acostumados a grandes esforços e o ruído surdo dos pés que tocavam no asfalto”, relata.

Segundo a assentada Kelli de Fátima Scarsi, o início a luta foi difícil, mas a esperança de conseguir o assentamento não permitiu que as famílias desistissem. “A necessidade que passávamos era muito grande. Às vezes, não tínhamos o que comer. Nos agarrávamos na esperança de ter um pedaço de terra, e isso nos deu força para chegar até aqui”, comemora.