Assentados inauguram agroindústria de Mel no Paraná

Solange Engelmann
do Paraná

Para beneficiar a produção agroecológica de mel, dos assentamentos, na região Centro-Sul do Paraná os trabalhadores assentados do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST construíram uma Agroindústria de Beneficiamento de Produtos Apícolas, chamada de Casa do Mel.

A inauguração aconteceu no dia 26 de abril, no Pavilhão da Igreja Matriz Santa Bárbara de Bituruna, com a presença de cerca de 400 participantes, entre autoridades e trabalhadores rurais da região.

A Casa do Mel, localizada no Assentamento Etiene, em Bituruna, processará 240 quilos de mel agroecológico diariamente, tendo a capacidade de beneficiar 60 mil quilos de mel por ano. O projeto beneficiará 220 famílias de seis assentamentos da região, além de pequenos agricultores do município de General Carneiro, Guarapuava e Inácio Martins.

A implantação da agroindústria vai fortalecer a criação de mercados alternativos para a comercialização do produto na região, facilitando o escoamento da produção de mel dos assentamentos. A Casa do Mel foi viabilizada com o apoio do Projeto Colméia, do Programa Petrobras Fome Zero.

A construção foi realizada dentro das normas da legislação do Certificado de Inspeção Federal – CIF, que permite a comercialização comercial até no exterior. A obra foi concluída em três meses, em sistema de mutirão. “A construção da Casa do Mel só foi possível, devido ao trabalho voluntário dos assentados. Mais de 100 trabalhadores contribuíram na obra”, relata o Técnico em Agropecuária, responsável pela obra, Jucélio Batista.

Com a iniciativa os assentados pretendem garantir a segurança alimentar e a geração de renda às famílias, visando à diversificação, beneficiamento e transformação da produção dentro de um desenvolvimento sustentável. Na opinião do Secretário de Agricultura do Paraná, Valter Bianchini, presente no ato, o projeto mostra como é possível construir propostas participativas, “fortalecendo a agroecologia, a diversificação da produção e a agregação de valor a produção dos assentamentos”, afirma.

Para Bianchini, a iniciativa mostra como os assentamentos estão transformando áreas improdutivas, em projetos de agricultura familiar, baseados na agroecologia e na sustentabilidade do campo.

Getúlio Padilha, que mora no assentamento Sonho de Rose,em Bituruna e coordena a Associação Regional de Cooperação Agrícola do Contestado (Arcac), que executa o projeto Colméia, conta que o projeto ajudou na organização dos assentados e aperfeiçoou o trabalho das famílias. “Calculamos que com o projeto vamos dobrar a produção de mel. Promovendo agregação de valor, porque depois do mel ser beneficiado e embalado, vai conseguir um valor melhor no comércio”, comemora.

O gestor de Projetos Sociais do Programa Fome Zero da Petrobras, Marcos Firmino dos Santos, que também participou da inauguração, concorda com Padilha e diz acreditar que a parceria vai aumentar a renda dos assentados. Ele declarou ainda, que a Petrobras está muito satisfeita com o resultado da parceria, e anunciou que o projeto será renovado para mais um ano, com investimentos na capacitação profissional dos trabalhadores.

Projeto Colméia

O Projeto Colméia visa à conscientização e capacitação dos agricultores para utilização do modelo de produção agroecológica. O trabalho foi executado durante um ano nos assentamentos de Bituruna e General Carneiro.

Antes do projeto, os assentados da região produziam, em média, 12 toneladas de mel por ano. Durante a execução do Projeto, foram criados 18 núcleos de apicultura, com cursos de capacitação, que receberam 483 caixas e equipamentos necessários para a produção de mel. A estimativa das famílias é de que a produção anual chegue a 60 toneladas.

Além do mel, os trabalhadores também estão investindo na produção de plantas medicinais e na fruticultura. Com o projeto montaram uma mini-usina de suco de uva e um secador de plantas medicinais.

“O projeto surgiu para atender à demanda da produção de subsistência dos assentados, e aos poucos estamos tendo melhorias de vida das famílias beneficiadas”, diz José Acir Cecilio, do Assentamento Rosa, em Guarapuava. A assentada Izolde de Oliveira Brun, do Assentamento Rondom III, em Bituruna, conta que o projeto garantiu uma renda a mais aos camponeses, facilitando o planejamento familiar. “Outra coisa importante é que o trabalho é coletivo, não tem nada individual, são as pessoas que estão se organizando para transformar a realidade”, explica.

Para o coordenador do Colméia, Valdenir dos Santos, a realização do projeto reforça a viabilidade da reforma agrária, provando que é possível obter renda com a produção agroecológica.

O Projeto Colméia, também promove a realização de trabalhos de campo e intercâmbio entre os agricultores. A execução é realizada pela Arcac, com a participação da Associação Imbúia Pesquisas (Asimp) e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), de União da Vitória.

Além do mel, os assentados planejam trabalhar com o beneficiamento de mais um derivado da abelha, o própolis.