Seminário avalia funcionamento da Escola Itinerante, no Paraná
Solange Engelmann
do Paraná
Para debater a implantação e o funcionamento dos três anos da Escola Itinerante no Paraná, cerca de 50 integrantes do setor de educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), participaram do Seminário Estadual de Avaliação da Escola Itinerante. O seminário aconteceu de 6 a 8 de maio, em Curitiba.
O Seminário reuniu educadores, coordenadores pedagógicos das escolas, coordenadores dos acampamentos onde as escolas estão instaladas e a coordenação de Educação do Campo da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED).
Os participantes fizeram um balanço político e pedagógico do funcionamento das Escola Itinerante nos acampamentos do MST, avaliação do projeto pedagógico, debates em torno da parceria com o governo do Estado e traçaram diretrizes para continuidade do trabalho. “O Seminário aponta que a Escola Itinerante possibilita o direito a educação de qualidade as crianças e jovens dos acampamentos”, afirma o coordenador do setor de educação do Paraná, Alessandro Santos Mariano.
Mariano explica que a Escola Itinerante possui uma boa qualidade de ensino, por ter como base de estudo a realidade do campo e estar dentro do princípio da pedagogia do movimento e a pedagogia libertadora de Paulo Freire. “Os conhecimentos universais servem para entender a vivência dos educandos, que como sujeitos têm a possibilidade de entender a sua realidade e condições de interferir na mesma”, reforça.
Atualmente existem 11 Escolas Itinerantes funcionando no Estado, que atendem cerca de 2.500 educandos. É uma escola pública, que oferece educação infantil, ensino fundamental e médio, e foi provada pelo Conselho Estadual de Educação, dentro das normas da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), em 2004.
No entanto, segundo o Mariano, a parceria com o governo do Estado ainda enfrenta vários limites, pois falta um atendimento específico da SEED, voltado para a realidade das Escolas Itinerante. “As Escolas ficam meses na fila de espera por materiais. Várias escolas estão sem merenda escolar, sem estrutura para funcionamento, sem material escolar. Sem contar que o salário dos educadores está atrasado há três meses”, reclama.
Proposta Pedagógica
A Escola Itinerante funciona dentro dos acampamentos do MST, acompanhando o itinerário das famílias Sem Terra, que vivem em condições de itinerância e garantindo o direito à educação de crianças, jovens e adultos.
Desde o início da luta pela terra, a educação das crianças sempre foi uma grande preocupação. A busca pela implantação de escolas também nos acampamentos tem sua primeira conquista em 1996, com aprovação da primeira Escola Itinerante, pelo Conselho Estadual de Educação do Estado do Rio Grande do Sul.
Geni Izabel Teixeira de Souza, educadora da Escola Zumbi dos Palmares, do acampamento 1° de Agosto, em Cascavel, conta que a implantação da Escola Itinerante melhorou a organização do acampamento e diminuiu a desistência das famílias acampadas, que precisavam levar seus filhos para estudar na cidade. “A escola dentro no acampamento faz com que as crianças fiquem mais próximas das famílias. Assim não precisam se deslocar até a cidade para procurar vagas nas escolas, e muitas vezes, sofrer discriminação por ser Sem Terra.”
A educadora ressalta que a proposta é desenvolver um ensino voltado para a realidade do campo e utilizar os conhecimentos acumulados pela humanidade para despertar o senso crítico nos educandos. “Na cidade você estuda para servir como força de trabalho, mas as pessoas não precisam estudar para ser alguém na vida, têm que estudar para ter acesso ao conhecimento, que é um direito de todos”, garante.
A Escola Zumbi dos Palmares conta com 380 educandos e 29 educadores. Neste espaço, as crianças e jovens podem cursar desde a educação infantil até o 2° ano do ensino médio. A escola também tem 4 turmas de supletivo com cerca de 40 pessoas e turmas de alfabetização de Educação de Jovens e Adultos (EJA), com 130 adultos.
Um dos grandes desafios da escola no momento é trabalhar com o sistema de ciclos, onde o ensino é trabalhado pelos ciclos de idade das crianças, não por série. Cada ciclo tem a duração de dois anos, e a alfabetização não é feita apenas por um educador, mas por um grupo. O sistema está em fase de implantação, mas precisa ser melhorado, explica Geni.
Outra diferença dessa escola para a tradicional pode ser percebido na forma de preparar as aulas. A metodologia é organizada para proporcionar vários espaços educativos. Além da aula, onde os educandos desenvolvem habilidades de escrita e leitura, a escola conta com tempos educativos.
Segundo Geni, na Escola Zumbi dos Palmares existe o tempo formatura, com místicas e apresentação dos símbolos da luta pela terra, tempo recreio, com lanche e brincadeiras, tempo oficina, com leitura, arte, matemática, teatro, música e tempo educação física.
Os educadores são dos acampamentos e acompanham de perto a vida das famílias Sem Terra. Outro princípio da escola é a democratização da gestão escolar, com a participação das famílias na construção do projeto pedagógico.