“É preciso retomar o conceito de classes nas lutas sociais”, afirma economista

Pedro Carrano
do Paraná

Contrapondo-se a idéia mais presente no imaginário social atual, de que a divisão da sociedade em classes foi superada e que, portanto, não há mais lugar na atualidade para a luta pelo socialismo, o professor de economia, Claus Germer (UFPR), afirma que sem a socialização dos meios de produção, há apenas ilusões dentro do sistema capitalista. A idéia foi defendida durante o debate realizado no Encontro Terra e Cidadania, que acontece até sexta-feira, 18, em Curitiba (PR), do qual também fez parte o economista Márcio Pochmann (Unicamp).

Para Germer, uma análise que não passe pela luta de classes encobre a atual situação dos trabalhadores assalariados. O economista critica os intelectuais, até mesmo os de esquerda, que abandonaram a premissa básica desenvolvida por Max e Engels de que a sociedade é dividida em classes sociais antagônicas.

Em 2000, cerca de 2,9% da população brasileira era composta por empregadores, ao passo que a ampla maioria, 44 milhões de pessoas, formam uma massa de assalariados que responde por 67% da população, explicou o economista, mostrando dados do Censo 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estáticas (IBGE).

Segundo Germer, a ideologia capitalista da classe dominante conseguiu penetrar de tal forma que, em alguns casos, acaba contaminando a luta dos trabalhadores. “As referências à divisão da sociedade em classes estão sendo encobertas”, diz. “Hoje o que temos são lutas específicas, as lutas indígenas, quilombolas, das mulheres, dos negros. É típico do neoliberalismo pulverizar as lutas. Todas são lutas legítimas, mas elas precisam estar amarradas numa luta mais ampla, que é por um outro modelo de sociedade.”

No campo a situação não é diferente. Para Germer os movimentos de trabalhadores rurais precisam ficar atentos ao levantarem algumas bandeiras, que podem ser características da pequena burguesia. “Os trabalhadores não podem assumir a bandeira dos “pequenos agricultores” [que detém os meios de produção]. Os movimentos precisam defender os assalariados e semi-assalariados rurais, àqueles que acabam vendendo a mão de obra para as fazendas mais próximas. Essa é a base dos movimentos de trabalhadores do campo, como o MST”.

Nessa mesma linha, Germer é enfático ao afirmar que não há reforma agrária possível nos marcos da burguesia, como aconteceu em alguns países da Europa e nos Estados Unidos. “Nos marcos do capitalismo não é mais necessária a reforma agrária, porque o capitalismo não precisa mais dela para sobreviver”, afirma. Para Germer a reforma agrária no Brasil passa necessariamente pela socialização dos meios de produção.

Modelo atual é excludente

Diferente na análise, mas como a mesma avaliação do atual sistema, o economista Márcio Pochmann (Unicamp), afirmou que não é possível aos países ditos subdesenvolvidos alcançar o patamar de vida dos países desenvolvidos. E não se trata de um problema conjuntural e sim estrutural, uma vez que, o próprio sistema capitalista, em vigor hoje, sobrevive da exclusão.

Nos EUA, segundo Pochmann, para cada três pessoas, duas possuem automóveis. No Brasil, por outro lado, existem 40 milhões de automóveis em circulação. Caso o Brasil alcançasse o modelo estadunidense, esse número subiria para 120 milhões de carros nas ruas o que resulta em um “padrão de consumo ambientalmente insustentável”.

Pochman afirmou que é preciso fazer a economia do Brasil crescer para gerar empregos, sobretudo para os jovens, atualmente os mais afetados pelas altas taxas de desemprego. No entanto, em citação ao economista Celso Furtado, também criticou esse modelo de desenvolvimento que busca reproduzir o modelo dos países hegemônicos e que por isso, acaba gerando mais concentração de renda.

O Encontro Terra e Cidadania está sendo promovido pelo Instituto de Terras, Cartografia e Geociências (ITGC).