Estudantes desocupam Reitoria da USP hoje, mas vão permaner mobilizados

Rafael Sampaio
Agência Carta Maior

Com sentimento de vitória, os estudantes da USP (Universidade de São Paulo) decidiram aceitar a proposta de negociação oferecida pela direção da universidade para que haja desocupação do prédio da Reitoria. A saída, após 50 dias de mobilização, deve ocorrer em um grande ato simbólico na tarde deta sexta-feira, 22, às 16 horas.

Reunidos em uma assembléia na noite de quinta (21), cerca de 300 estudantes aprovaram uma carta enviada pela reitora Suely Vilela que contempla quatro reivindicações feitas pelos alunos, como: mais vagas para moradia estudantil, não punição das pessoas que participam da greve e da ocupação, audiência pública para discutir o programa de inclusão da universidade (Inclusp) e apoio e reconhecimento do 5° Congresso da USP, que deve reunir funcionários, professores e estudantes, em 2008, para discutir uma reforma no estatuto da instituição.

A Reitoria da universidade deve assinar ainda nesta sexta a carta, aceitando praticamente todos os pontos estipulados pelos estudantes para fazer a desocupação. Um outro documento deve ser enviado aos funcionários da instituição, que devem votá-la em uma assembléia.

“O movimento dos alunos teve conquistas com essa ocupação ao prédio da Reitoria como não havia há muito tempo”, diz Joana Salem, que está no 3º ano de História. Ela crê que o governo de José Serra sai derrotado tanto quanto os setores mais conservadores da universidade, “que queriam o envio da Tropa de Choque da Polícia Militar para expulsar os alunos da ocupação”.

As negociações, que estavam bloqueadas pela reitora Suely Vilela desde quarta-feira (20), foram retomadas graças à mediação de um grupo de cinco intelectuais da universidade: o professor titular de História, István Jancsó; o livre-docente em Letras, João Adolfo Hansen; o professor de Artes Plásticas, Luiz Martins; o professor titular de Filosofia, Paulo Arantes; e o professor titular de Sociologia, Francisco de Oliveira, que já foi presidente do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). Eles se intitularam “facilitadores” para achar solução negociada entre os alunos e a instituição.

A carta foi apresentada pelos cinco professores aos alunos durante a realização da assembléia. Caso fosse negada, a Reitoria não aceitaria novas negociações, o que poderia significar uma desocupação feita com o auxílio de força policial. Os docentes afirmam terem sido convidados pela direção da universidade para facilitar a negociação.

Dentre as propostas retomadas pela reitora, está um investimento de R$ 500 mil para reformar os prédios das moradias já existentes, além de um debate a respeito do prazo de jubilamento (período máximo que tem um estudante para concluir o seu curso) e da definição do tempo de 120 dias para os cursos apresentarem um plano de metas e as necessidades de seus docentes. Uma comissão de 16 integrantes, dos quais oito serão professores e oito serão alunos ou funcionários, terá 90 dias para avaliar as demais propostas de pauta dos alunos.

“A luta dos estudantes não terminou, mas deu um salto”, avalia Joana, que crê agora ser preciso acompanhar se as reivindicações serão cumpridas e também em preparar terreno para novas pautas dos estudantes, como democracia na universidade, o que inclui eleições diretas para Reitor, e também para pedir “políticas afirmativas de fato, e não essa vergonha que é o Inclusp”.

Congresso da USP

Bianca Boggiani, estudante de Ciências Sociais, enxerga as conquistas dos estudantes como “pequenas e parciais, com exceção do reconhecimento ao 5° Congresso da USP, que foi um avanço muito grande”.

O evento deve ocorrer só em 2008, e vai “exigir muito preparo e participação da comunidade universitária”, na opinião de Joana. Ela explica que o Congresso vai ser deliberativo, ou seja, vai ter um projeto de reforma do estatuto da universidade, o que não significa que a Reitoria vá acatá-lo completamente.

“Vamos construir um instrumento de pressão política sobre o Conselho Universitário, que já tem uma proposta de reforma estatutária em curso, onde estão previstas muitas medidas com as quais não concordamos, como a flexibilização de contratos trabalhistas como o de professor”, afirma Joana.