Após ano de resistência, Sem Terra deixam área da Syngenta

As 80 famílias que ocupavam a Estação Experimental da Syngenta Seeds, em Santa Tereza do Oeste, no oeste do Paraná, começaram a desmontar o acampamento e a deixar o local na tarde de ontem, dia 11. Eles acataram ordem de reintegração de posse expedida pelo juiz da 1ª Vara Cível de Cascavel, Fabrício Priotto Mussi. O juiz concedeu prazo até ontem para que o governo do Estado realizasse a retirada das famílias, se necessário com o uso de força policial, caso contrário o governador Roberto Requião (PMDB) seria obrigado a pagar multa diária de R$ 2 mil.

Requião entrou com agravo de instrumento, no Tribunal de Justiça, com a intenção de rever a obrigatoriedade do pagamento da multa. Já o advogado Darci Frigo, da Terra de Direitos, apresentou pedido de maior prazo – pelo menos sete dias – para a saída dos Sem Terra. Anteontem, o juiz já tinha recusado pedido semelhante.

A área foi ocupada em 14 de março do ano passado. O motivo da ocupação, é que a propriedade ficava dentro da zona de amortecimento do Parque Nacional do Iguaçu e, portanto, estaria contrariando a legislação ao produzir transgênicos. O Instituto Nacional de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) aplicou multa de R$ 1 milhão à empresa, justificando que não tinha licenças ambientais. A Syngenta recorreu. Disse que respeita a legislação.

O governador Requião chegou a desapropriar os 127 hectares da área, mas o decreto foi considerado inconstitucional pela Justiça. As famílias vão para o Assentamento Olga Benário, perto da propriedade.

Resistência

A ocupação foi um ato de resistência por parte das famílias Sem Terra que ocupavam a área. Isso porque no local, a Syngenta realizava experimentos com organismos geneticamente modificados, como soja e milho, não respeitando a zona de amortecimento – de uso restrito ao redor de reserva ambiental – do Parque Nacional do Iguaçu.

Durante mais de um ano de ocupação, as famílias produziram no local, alimentos agroecológicos. O acampamento foi batizado “Terra Livre”, justamente por estar livre de agrotóxicos e de sementes geneticamente modificadas. Para o MST esse foi um período de por em prática experiências de cultivo agroecológicas para descontaminar a terra. As 80 famílias já colheram este ano, a primeira safra de alimentos, produzidas dentro do modelo de cultivo agroecológicos. Uma prova de que é possível por em prática uma outra lógica de produção de alimentos, que exclua os agrotóxicos e os transgênicos.