Jornada de Agroecologia: várias vozes e uma mesma soberania

Pedro Carrano,
do Paraná

Soberania alimentar, diversidade de cultivos em oposição à monocultura, pequenos produtores em confronto com as empresas do agronegócio, estes são os temas que estão no coração das cerca de 5.000 pessoas presentes na abertura da 6° Jornada de Agroecologia, realizada na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), em Cascavel. A partir da chamada “Cuidando da Terra, Cultivando Biodiversidade e Colhendo Soberania Alimentar”, o encontro toca no ponto da soberania do pequeno agricultor sobre a sua forma de produção.

A baixa temperatura em Cascavel impediu a realização da marcha de abertura da Jornada. Mesmo assim a plenária que abriu o evento foi realizada com apresentações culturais e com a saudação por parte de algumas entidades, entre as 20 que organizam o encontro. Uma questão evidente é o caráter da Jornada como um espaço de troca de conhecimentos, o que ganha força no fato de que este ano é a primeira vez que a Jornada acontece no espaço público de uma universidade.

Darci Frigo, advogado da ONG Terra de Direitos, que presta apoio jurídico aos movimentos sociais, ressaltou que a Jornada de Agroecologia de 2007 abre-se para temas como a biodiversidade e soberania alimentar. Frigo explica que esta última é diferente do conceito de segurança alimentar, pois a soberania envolve a produção própria de sementes e alimentos saudáveis.

Thomas Parrili, da Via Campesina, em entrevista ao jornal Brasil de Fato, apontou também que este ano a conjuntura dos agrocombustíveis e do atual cenário de mudança da matriz energética mundial vai estar presente em todos os espaços da Jornada. “A questão da matriz energética e dos agrocombustíveis vão ser tratadas em praticamente todos os espaços, como conferências e oficinas, algumas delas vão tratar da expansão do monocultivo da cana no cenário brasileiro. Dá para dizer que este ano é um dos temas que mais recebeu atenção da Jornada”, informa.

Movimentos diversos comparecem à Jornada, identificados na luta contra as empresas transnacionais. O indígena kaigangue, Alvandi Salles Ribeiro, ressaltou as diferenças culturais entre os movimentos indígenas e os movimentos camponeses. Afirmou, porém, que ambos se reconhecem no enfrentamento contra o capitalismo e as empresas transnacionais.

O internacionalismo esteve representado pelas delegações da Argentina, Uruguai e Paraguai. Jose Bobadilla representa o Movimento Campesino Paraguaio. A cultura dos pequenos produtores paraguaios sempre esteve ligada à agroecologia, afirma Bobadilla, assim mesmo o estudo e a troca de técnicas são importantes. “O Brasil tem bastante experiência no trabalho com agroecologia, temos que aproveitar e intercambiar estas experiências”, diz.

Bobadilla comenta que cerca de 40% da população paraguaia é camponesa, entretanto, o país vive um momento de êxodo rural. Uma das razões está nos empresários brasileiros do agronegócio, que adquirem terras no Paraguai para a produção de soja. Com o advento dos agrocombustíveis, a cana-de-açúcar pode ser o próximo alvo, afirma.

O representante dos movimentos sociais vê que os movimentos sociais na 6° Jornada se identificam no tema comum da soberania alimentar. “A luta é em defesa da soberania. No caso do Paraguai, a luta pela Reforma Agrária é para que os camponeses não percam a terra. Os camponeses estão sendo expulsos, e o governo não mexe na terra dos latifundiários”, comenta.

A 6° Jornada de Agroecologia vai até sábado, dia 14 de julho.