Polícia Federal diz que empresa de segurança NF tem contrato com SRO

Relatório feito pela unidade da Polícia Federal de Cascavel aponta que a empresa NF Segurança, responsável pela contratação dos cerca de 25 homens que trocaram tiros com trabalhadores Sem Terra no domingo, tem a Sociedade Rural do Oeste do Paraná como um de seus clientes. O relatório se transformou em um inquérito que, no mês passado, terminou com a prisão da dona de empresa, Maria Ivanete Campos de Freitas, por porte ilegal de munição.

O inquérito da Polícia Federal também já indiciou o outro dono da NF, Nerci de Freitas, por porte ilegal de munição. Há cerca de quinze dias, o delegado da Polícia Federal de Cascavel, José Alberto de Freitas Iegas, aguarda uma definição da Justiça Federal sobre os pedidos de busca e apreensão que fez para aprofundar as apurações.

Como diz o documento que deu início ao inquérito, o relatório é resultado de “investigações realizadas sobre ações praticadas por um grupo de seguranças particulares contratados pelo Movimento dos Produtores Rurais (MPR), recentemente criado na região de Cascavel, no sentido de repugnar violentamente ações dos movimentos sociais de luta pela terra”.

De acordo com as apurações, os seguranças contratados pela empresa têm antecedentes criminais e a maioria das pessoas contratadas, como afirma o documento, “nem mesmo tem capacitação e autorização para atuar como seguranças particulares, agindo assim na ilegalidade, e inclusive conforme constam de depoimentos e relatos de integrantes do movimento sem-terra, vários deles vêm incorrendo no crime de porte ilegal de arma de fogo”.

O documento cita os exemplos do segurança Carlos Antônio dos Santos, autuado por disparo de arma de fogo em via pública, de João Carlos Fogaça dos Santos, autuado por embriaguez ao volante e de Marcelo Victor Stieven, autuado por porte ilegal de arma. Todos eles respondem a inquéritos que tramitam na 15ª Subdivisão Policial de Cascavel e trabalhariam para a empresa NF.

Coincidentemente ou não, Carlos Stieven está preso por envolvimento direto com o tiroteio que terminou em duas mortes no domingo, na sede da fazenda experimental da Syngenta Seeds. Além dele, Rodrigo de Oliveira Ambrósio, segurança contratado pela NF e também preso por envolvimento direto no tiroteio, é citado no relatório da Polícia Federal como sendo o “responsável em recrutar diretamente os homens que atuam nas desocupações, além de ocupar o cargo de supervisor rondante em tal empresa”.

O relatório também traz a confirmação de que a Sociedade Rural do Oeste do Paraná contratou os serviços da empresa de segurança. “Após solicitação verbal feita por estes policiais ao sr Nerci de Freitas, proprietário da empresa NF Segurança, que apresentasse quem são os principais e mais regulares tomadores dos serviços prestados por aquela empresa de segurança, foi indicada por ele, dentre outras empresas, a Sociedade Rural do Oeste do Paraná, onde inclusive fica sediado o MPR – Movimento dos Produtores Rurais”, esclarece textualmente o documento.

O delegado Iegas, que chefia a Delegacia da Polícia Federal de Cascavel, contou que também o próprio presidente da Sociedade Rural, Alessandro Meneghel, confirmou ter contratado a NF para prestar serviços de segurança. “Ele também afirmou em depoimento que fundou o Movimento dos Produtores Rurais”, disse o delegado que hoje (23) encaminhou cópias do inquérito à Polícia Civil de Cascavel para subsidiar e ajudar nas investigações sobre o tiroteio na Syngenta.

Iegas ainda contou que prendeu, no dia 27 de setembro, uma das sócias da empresa NF, Maria Ivanete Campos de Freitas, por porte ilegal de munição. De acordo com o delegado, foram encontrados na sede da NF 42 munições calibre 380, noventa cartuchos de 38, 47 estojos deflagrados de 38 e outros 25 deflagrados de 380. Como as munições não foram previamente vistoriadas e aprovadas pela Polícia Federal, como determina a lei que regula as empresas de segurança, Maria Ivanete foi presa e Nerci de Freitas foi indiciado por porte ilegal de munição. “Agora esperamos uma resposta da Justiça Federal para poder continuar com as investigações sobre a legalidade das ações desta empresa”, disse o delegado.

Fonte: Agência Estadual de Notícias