Reitorias ocupadas em todo país contra o projeto do Reuni

Dafne Melo,
Agência Brasil de Fato

Se depender da mobilização estudantil, o governo federal não conseguirá adesão fácil das universidades federais ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, o Reuni. Até esta terça-feira, dia 23, eram seis as reitorias de instituições federais de ensino superior que encontravam-se ocupadas: a do Paraná (UFPR); a de São Paulo (Unifesp); a da Bahia (UFBA); a de São Carlos (Ufscar) – interior de São Paulo; a do Rio de Janeiro (UFRJ); e a de Niterói (UFF) – na região metropolitana do Rio de Janeiro. Em todas, o mote principal é a rejeição ao Reuni.

O plano do Ministério da Educação (MEC) é que as 52 universidades federais do Brasil votem até o fim deste mês suas adesões, por meio dos conselhos universitários. Uma queixa comum dos estudantes, entretanto, é que os conselhos universitários são anti-democráticos, com representação ora nula, ora inexistente, de estudantes e funcionários. Desse ponto de vista, será fácil aprovar a adesão ao programa, visto que a maioria dos reitores tem se mostrado favorável.

Plebiscito

Diana*, estudante de Ciências Sociais da UFPR, conta que a reivindicação principal do movimento é a retirada da votação do Reuni da pauta de reunião do conselhos universitário e a realização de um plebiscito entre a comunidade acadêmica, com representatividade de todos os setores, para decidir pela participação ou não no projeto do MEC. A estudante conta que a votação ocorreria no dia 17.

“Tínhamos uma assembléia marcada no mesmo dia para decidir o que faríamos e, no caminho, nos falaram que a reunião do conselho havia sido adiada para o dia 23. Escolheram essa data porque sabem que os estudantes estavam organizando ônibus para sair neste dia para Brasília, onde ocorrerá a marcha contra as reformas neoliberais do Lula (dia 24). Então, querem garantir que os estudantes estejam fora da UFPR. Uma estratégia utilizada em diversas universidades. A partir disso, optamos pela ocupação”, conta.

Na UFRJ, os estudantes ocuparam a reitoria no dia 18, após a reunião do conselho em que o Reuni foi aprovado. Cerca de 600 estudantes acompanharam a reunião, mas foram impedidos de falar. Agora, exigem a revogação da votação e a realização de um plebiscito. Um abaixo-assinado organizado pela comunidade acadêmica reuniu 4 mil assinaturas favoráveis à consulta.

Os docentes da UFRJ, representados pelo sindicato da categoria, Adufrj, divulgaram um documento contrário ao Reuni. “Como criar novos cursos de graduação se as atividades de ensino dos professores não são valorizadas? Como silenciar sobre as desigualdades salariais e de carga de trabalho no interior de nossa instituição? E como reestruturar a universidade se a pesquisa e o ensino estão dissociados?”, argumentam.

Repressão

Na Unifesp, 20 estudantes, 15 mulheres e cinco homens, foram agredidos por cerca de 14 seguranças da universidade quando tentavam entrar na reunião do conselho universitário, no dia 18. De acordo com as normas, apenas um representante pode entrar. gEstavam à paisana e quando tentamos entrar junto com a representante, vieram nos batendo, sem nem falar nadah, conta Denise*.

Um dia depois, a reitoria soltou comunicado afirmando que a agressão tinha partido dos estudantes e que cinco seguranças estavam feridos. “Vieram 14 seguranças homens e nós estávamos em 15 mulheres, é ridículo dizer que nós chegamos agredindo”, rebate. No dia seguinte, continua Denise, a professora Cynthia Andersen Sarti, integrante do conselho universitário, foi até a reitoria, ocupada pelos estudantes desde o dia 18, e “disse que nós tínhamos tido aquilo que merecíamos”, relata.

Além da revogação do Reuni, os estudantes da Unifesp incluem na pauta de reivindicação uma série de melhorias no campus de Guarulhos. Dentre elas, políticas de permanência estudantil na universidade, não punição ao movimento estudantil e retratação e responsabilização do reitor e do conselho universitário pela agressão aos estudantes.

Semelhante situação ocorreu na UFBA. No dia 19, uma reunião do conselho universitário foi marcada às pressas. Na pauta, a votação do Reuni. Como os estudantes ocupavam desde o dia 1º a sala dos conselhos da reitoria, o reunião foi marcada na Faculdade de Direito. Ao chegarem, os estudantes foram recebidos por seguranças à paisana.

Segundo nota dos estudantes publicada no blog da ocupação, o reitor Naomar de Almeida Filho aproveitou o tumulto e “solicitou aos poucos conselheiros presentes que se aproximassem da mesa e, então, forjou a votação do Reuni, sem qualquer discussão”. De acordo com os estudantes, sequer há uma ata da reunião. Assim como os outros movimentos, exigem, como condição para a desocupação, a revogação da adesão ao Reuni e realização de um plebiscito.

*Todos estudantes ouvidos pela reportagem do Brasil de Fato optaram pela não divulgação de seus nomes para evitar que estes sofram represálias.

Blogs das ocupações:
UFPR – forareuni.wordpress.com
UFRJ – ufrjocupada.blogspot.com
Unifesp – ocupeunifesp.blogspot.com
Ufba – ocupacaoufba.blogspot.com