Marcha do MST comemora 22 anos da ocupação da Annoni

Teatros, shows e um ato público marcam, neste final de semana, as comemorações dos 22 anos da ocupação que deu origem aos assentamentos na Fazenda Annoni, nos municípios de Pontão e Sarandi, no Norte do Rio Grande do Sul. As atividades em torno do aniversário acontecem no sábado, dia 3 de novembro, no Camping Zambiasi, no Assentamento 16 de Março, em Pontão. São organizadas pelas famílias assentadas na Annoni e pelos 1.700 integrantes que realizam a marcha do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no estado.

A Fazenda Annoni e a Fazenda Coqueiros, no município vizinho de Coqueiros do Sul, possuem a mesma área e o sucesso dos assentamentos realizados na década de 80 comprova o potencial social e econômico da Reforma Agrária. Antes de ser desapropriada, a Fazenda Anoni era improdutiva e foi onde se desenvolveu o capim-annoni, hoje considerado uma praga nos campos de pastoreio gaúchos.

Atualmente, os assentamentos na área produzem anualmente cerca de 20 mil sacas de trigo, 6 milhões de litros de leite, 150.000 sacas de soja, 35.000 sacas de milho, 45 toneladas de frutas, 800 cabeças de gado, 5.000 cabeças de suínos e 10.000 quilos de hortaliças.

As lutas pela desapropriação da Fazenda Annoni e a criação dos cinco assentamentos, em que vivem atualmente 420 famílias, é considerado o marco da atuação do MST no estado e, mais tarde, em todo o Brasil.

Programação

No sábado, dia 3, a comemoração começa com shows musicais, às 18h. Depois, às 20h, acontece ato público com a presença de apoiadores, de famílias assentadas na Fazenda Annoni e de lideranças antigas do MST, que contribuíram na criação e na formação do Movimento no Estado. Às 20h30, acontece a apresentação da peça teatral “A História de Sepé e do Povo Guarani”, que envolve cerca de 200 assentados, estudantes e integrantes Sem Terra.

A direção do espetáculo é de Tadeu Mello, que também dirigiu outros espetáculos e minisséries de TV, como “Casa das Sete Mulheres”. Toda a programação será apresentada no Camping Zambiazi, localizado no Assentamento 16 de Março, na Área 1 da Fazenda Annoni, em Pontão.

A juventude também participa das atividades com um encontro, que acontece entre os dias 2 e 3 de novembro no ginásio do assentamento 16 de Março. Além dos Sem Terra, participam das comemorações sindicatos e entidades apoiadoras, pastorais sociais, associações comunitárias, parlamentares, prefeitos e a comunidade local.

A agricultora do MST, Irene Manfio, que participou das ocupações da Annoni e vive no assentamento, considera a luta pela área um símbolo da resistência. “A Annoni foi o marco, aqui na região, da luta pela terra. Para as famílias, foi a conquista de suas moradas e suas vidas”, diz.

Ocupações

No Estado, as ocupações de terra organizadas por famílias Sem Terra iniciaram em 1979, com a tomada das fazendas Brilhante e Macali, em Ronda Alta, no norte gaúcho. Na época, centenas de agricultores tiveram que sair de suas terras que foram consideradas áreas indígenas no município de Nonoai. Sem receber indenização dos governos – era a época da Ditadura Militar – e sem ter para onde ir, os agricultores acamparam na beira de estrada, chegando a reunir mais de 600 famílias.

No entanto, a primeira e maior ocupação de terra realizada pelas famílias já organizadas no MST – que foi criado oficialmente em 1984 durante um encontro realizado na cidade gaúcha de Erval Seco – foi em 29 de outubro de 1985, na Fazenda Annoni. Cerca de 1.500 famílias Sem Terra ocuparam a área improdutiva, de pouco mais de 9.200 hectares, para forçar o governo militar a criar o assentado na fazenda, que já tinha o decreto de desapropriação desde o início dos anos 70.

A desapropriação da Annoni, com a legalização dos lotes das famílias, só iniciou em 1990. A produção movimenta o comércio local e leva alimento sadio para a mesa dos trabalhadores da região. O assentamento também tem quatro escolas para as crianças e os jovens assentados.

Já a Fazenda Coqueiros, que é reivindicada para Reforma Agrária, gera apenas 20 empregos diretos e ocupa 30% do território do município de Coqueiros do Sul. Em impostos, a fazenda contribui para a cidade com a mesma arrecadação que 4 aviários de pequenos agricultores. Além de dirigir toda sua produção para a exportação. “Por isso é que queremos a desapropriação da Fazenda Coqueiros. Para assentar as famílias e fazê-la desenvolver como aconteceu com a Fazenda Annoni”, afirma Mauro Cibulski, coordenador do MST e da coluna da marcha que saiu da região metropolitana.