Via Campesina debate desafios para os movimentos sociais do campo

A nova fase da organização da agricultura no Brasil, que tem como principal característica a aliança entre o capital financeiro e os latifundiários, demanda dos movimentos sociais, uma dura batalha nos próximos anos. Essa é uma das reflexões presentes na I Plenária da Via Campesina Brasil, que acontece em Goiânia, Goiás. A plenária começou na manhã do dia 27 e vai até sexta-feira, dia 30.

A plenária considerou outros pontos que retratam a conjuntura agrária brasileira. O controle de todas as cadeias agroalimentares e energéticas foi apontado como um desses pontos. Segundo a avaliação feita, atualmente as transnacionais exercem o controle, desde a produção de grãos, geralmente cultivados em monocultivo, até a produção do veneno usado dentro de um sistema integrado que só prejudica o pequeno agricultor. O agricultor se torna um simples empregado disfarçado.

Os participantes também discutiram o uso intensivo dos agroquímicos e as novas técnicas de controle. Faz parte desse debate a questão dos transgênicos. Hoje as transnacionais patenteiam sementes geneticamente modificadas, obrigando os camponeses a serem dependentes das empresas que fornecem as sementes, o adubo e os venenos, muitas vezes antes mesmo da plantação ser iniciada e sem nenhum laudo técnico. Isso sem falar dos danos ambientais provocados pela utilização dos transgênicos.

A mecanização pesada, em detrimento de mão de obra, e a predominância na produção de grãos, pela facilidade de especulação de preços e controle de estoque também foram apontados como pontos relevantes dentro da avaliação conjuntural.

Água e o Capital

A água também foi identificada como um bem natural mercantilizado. O que se convencionou como “hidronegócio” é mais uma forma de como o capital está se apropriando dos recursos naturais para a sua própria sustentabilidade.

Se antes os camponeses se utilizavam da água de forma livre para a irrigação de sua plantação, agora processo prevê um sistema de outorgas para o uso das águas brasileiras, gerenciado pelo Comitê de Bacias, como prevê a lei brasileira de recursos hídricos (Projeto de lei 9433/ 97), implantada no Governo Fernando Henrique Cardoso.

Rio Madeira

O projeto Rio Madeira, que envolve a divisa do estado de Rondônia com a Bolívia, é um exemplo de plano do Capital para o controle das águas brasileiras dentro da produção de energia.

São previstas a construção de uma hidrovia, que facilitaria o transporte das monoculturas produzidas, como a soja, além de quatro grandes hidrelétricas pra alimentação energética de grandes mineradoras. A fonte hídrica é mais barata e eles perceberam isso. O Madeira, dentro deste projeto, foi pensado não só pra atender a energia, mas o sistema de capital financeiro e as mineradoras que demandam muita energia. São 42 bilhões de investimentos iniciais para as multinacionais tomarem conta com energia a preço de custo.

Mais de 300 militantes de movimentos sociais como o Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Pastoral da Juventude Rural (PJR), Federação dos Estudantes de Agronomia (Feab), a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), além de outras organizações de povos tradicionais convidadas.