No Maranhão, agronegócio mata trabalhadores rurais e indígenas

Reynaldo Costa,
de Açailândia (MA)

Nos últimos dois anos a tensão no campo maranhense vem aumentando. Em diversas regiões do estado há ameaças a trabalhadores e despejos violentos. Em outubro o trabalhador rural, José Antonio Souza, foi assassinado na porta de sua casa; no mês seguinte foi a vez do cacique Joaquim Guajajara. A impunidade continua legitimando o crime.

Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT) há hoje no estado mais de 30 denúncias de trabalhadores rurais ameaçados pelo latifúndio. Para o advogado Nonato Masson, esta tensão é resultado do avanço do agronegócio. Segundo ele, o número de denúncias se torna ainda maior quando contabilizados os ataques e as ameaças contra aldeias e lideranças indígenas.

No dia 19 de outubro, o trabalhador rural, sindicalista e ambientalista, José Antônio Souza, conhecido como Lourenço, 60 anos, foi assassinado na porta de sua casa, localizada no Assentamento Estrela, no município de Viana. Ele chegava de um roçado quando foi surpreendido por um tiro à queima-roupa de arma calibre 12. Os criminosos ainda não foram identificados.

Lourenço foi assassinado por denunciar as agressões do agronegócio na região da Baixada maranhense. Em 2006 ele encaminhou relatório ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), denunciando crime ambiental cometido por diversos fazendeiros da região, entre os quais Antônio de Jorrimar e Evilásio Costa, dois representantes do agronegócio na região, conhecidos por suas brutalidades contra os trabalhadores de Viana.

Lourenço deixou mulher e dez filhos, alguns residentes em Estrela, outros em São Luís. Os familiares e vizinhos sentem-se ameaçados, temerosos que uma nova brutalidade possa vir ceifar a vida de outros companheiros. O caso está sendo acompanhado pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Viana (STTR) e pelo Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB)

No dia 30 de novembro o cacique Joaquim Guajajara, 65 anos, da aldeia Nova Providência – Terra Indígena Arariboia – foi assassinado. O corpo foi encontrado a 50 quilômetros do município de Arame, região centro do Maranhão, às margens da rodovia estadual MA-006.

De acordo com informações da Fundação Nacional do Índio (Funai), o cacique foi morto com dois tiros. A Polícia Federal investiga o crime para tentar chegar ao assassino. Existe a suspeita de que a morte tenha alguma relação com a disputa por terras entre brancos e indígenas.

A Terra Indígena Araribóia, corresponde a uma área de 413 mil hectares no oeste do Maranhão. No local, vivem cerca de 8.000 índios da etnia Guajajara e 50 índios isolados da etnia Guajá. Há muito tempos os indígenas dessas terras tentam expulsar os madeireiros, que exploram suas terras.

Há mais de 4 meses Ibama e Policia Federal realizam na região a Operação Araribóia que visa minimizar os conflitos territoriais existentes na região. Entretanto, a ação não foi suficiente para evitar o assassinato de indígena.

Foto: Bruno Zornita – Ato contra a impunidade em frente ao Tribunal de Justiça/RJ em abril de 2006