Yeda continua fazendo política com polícia

Por Frei Pilato Pereira

Política e polícia são duas palavras muito parecidas e podem estar integradas, mas são coisas diferentes. Um governo deve fazer política com ações que resultem no bem comum. A polícia tem um papel na política, que é o de proteger as pessoas, garantir a liberdade individual e coletiva, possibilitar que a vida transcorra em harmonia, sempre evitando a violência moral e física, preservando a integridade da vida humana. Mas no Rio Grande do Sul a polícia tem sido indevidamente um instrumento político contra a Democracia.

O governo do Estado deveria dialogar com os trabalhadores, procurar ver de perto seus problemas e tentar resolve-los com ações políticas, com políticas públicas e sociais ou políticas estruturais. Mas, simplesmente manda a polícia agir como se fossem criminosos.

Uma sociedade democrática precisa de instituições que agem politicamente, com manifestações e diálogos, preservando a Democracia. E é isto que o MST, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, vem tentando fazer a mais de duas décadas no Rio Grande do Sul e no Brasil. As ocupações do MST são ações políticas que servem para mostrar aos governos e a sociedade, que existem gente sem terra e terra acumulada nas mãos de poucos.

O MST procura mostrar a inconstitucionalidade da terra, abrindo os olhos do governo para tantas propriedades que não cumprem a função social, enquanto aumenta a miséria e o abandono de quem sofre por falta de terra. Não se trata de uma ação criminosa, mas um ato político e democrático. Ao entrar numa área de terra, o movimento não vai se apropriar da terra e dos bens que lá estão, mas apenas expressar uma realidade, uma situação que merece ser repensada politicamente pelos governos.

Mas, no Rio Grande do Sul, a governadora Yeda Crusius do PSDB, aliada aos Democratas (antigo PFL), como se ainda estivesse nos tempos da ditadura militar, manda a polícia agredir os trabalhadores democraticamente organizados. Isto é lamentável, porque fere de morte a Democracia. Se o governo continuar agindo com polícia armada contra os trabalhadores, resta outra alternativa se não a organização armada? Os pobres já são vítimas da violência social, que lhes rouba os direitos básicos e quando tentam se organizar e lutar, são tratados a ferro e fogo pela polícia, como se fossem criminosos.

Com o passar do tempo a organização democrática vai perdendo credito e eficácia, vai deixando de ser viável. Mas os problemas continuam, e de alguma forma as pessoas precisam lutar. Aqui cabe lembrar a famosa frase de Jesus de Nazaré: “Se eles se calarem, as pedras gritarão” (Lc 19,40).

No dia 17 de janeiro, quando completou seis meses da tragédia do avião da Tam, em São Paulo, a polícia militar no Rio Grande do Sul quase provocou uma tragédia ainda maior. Os policiais que já tinham invadido dois acampamentos de sem terra, passaram todo o dia insistindo para entrar num assentamento, onde se realizava o encontro estadual do MST. Evidente que, um povo que recuperou sua dignidade lutando pela terra, não iria aceitar isso passivamente e a polícia armada até os dentes iria causar muitas mortes. E esta seria uma grande tragédia, não provocada por acidente, mas planejada em gabinete.

Este gesto do governo gaúcho em sincronia com o Judiciário e fazendeiros, causa certa preocupação. Pois, me parece que não querem preservar a Democracia. Depois dessa e de outras, devo dizer que tenho medo da governadora Yeda. Além do estrago social, político e econômico, ela está ferindo de morte a Democracia.

Frei Pilato Pereira, de Bagé, é membro da CPT e do Serviço de Justiça, Paz e Ecologia dos Freis Capuchinhos.