Amora agroecológica é fonte de renda para assentados no RS

Agricultores assentados em Vacaria (RS), nos Campos de cima da Serra, mostram a viabilidade da produção agroecológica na agricultura. Há 13 anos, pequenos produtores do Assentamento Nova Estrela plantam amora sem agrotóxicos e adubos químicos. Nesta safra, a produção total do assentamento, de 32 famílias, chegou a 100 toneladas da fruta. Mais da metade foi produzido no sistema agroecológico.

Desde 1998, a fruta in natura é vendida pela associação dos agricultores para uma empresa de produtos agroecológicos de Antônio Prado, na Serra, que industrializa a matéria-prima. A empresa também tem um convênio com o governo estadual, pelo qual comercializa a fruta para ser distribuída nas merendas escolares da região. O agricultor João Almeida, de 55 anos, considera bom os ganhos com a amora, que neste ano foi vendida a R$ 1,00 kg, o que rendeu R$ 100 mil para o assentamento sem os custos dos agroquímicos. Ele avalia que, se houvesse mais incentivo, a produção do assentamento poderia ser totalmente agroecológica.

“Mais de cinqüenta por cento das famílias do assentamento produzem agroecológico. Mas, se tiver um incentivo, ela passa a ser cem por cento, porque é falta de orientação de muitos agricultores que pensam em ter vantagem usando produtos químicos na sua lavoura. E não é, é uma ilusão. A gente vê que as pessoas que trabalham a questão da agroecologia não têm menos renda e não tem menos produção de quem usa produto químico na lavoura. A química, a gente sabe que é um dano ao meio ambiente e financeiro, porque a pessoa acaba gastando mais”, afirma.

Conseguir com que os outros agricultores também produzam sem químico é necessário para a sobrevivência da atual produção agroecológica. Como as propriedades são pequenas, diz João, o perigo de contaminação é muito maior.

“O que atrapalha a questão agroecológica porque, para produzir sem químico precisa-se uma área determinada em que na vizinhança ninguém trabalhe com produtos químicos. Nós conseguimos, na associação, e porque o assentamento fica em uma região de bastante relevo e mata, em encosta de morro, conseguimos produzir agroecologicamente. Tanto é que hoje temos certificado do nosso produto”, argumenta.

Para este ano, os agricultores esperam que seja construída a agroindústria, que irá atender os três assentamentos da região. João relata que no espaço, eles pretendem ter um refrigerador para estocar a fruta, evitando assim as perdas, que nesta safra chegou a quase 20% da produção. Também querem industrializar a fruta e produzir geléias, chimias, sucos, vinagres e até mesmo vinho de amora. Atualmente, os agricultores já confeccionam os produtos, mas de uma maneira artesanal.

Outro objetivo é ampliar a produção agroecológica de mel no assentamento e conseguir a certificação, como já possuem com a amora. Os agricultores também estão investindo na produção de peixe.

Luta pela terra – O Assentamento Nova Estrela foi criado em 1988, depois de muita luta e organização do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Rio Grande do Sul. Assentado desde a implementação da comunidade, o agricultor João Almeida relata o início difícil.

“O assentamento fica longe da sede, o que dificultava nossa participação das discussões do movimento e até mesmo do cotidiano político da região. A gente também teve dificuldade com a terra, que era só mato. A gente derrubava com queimada. Não sabíamos o que plantar, então começamos com o básico, como arroz, milho e feijão”, diz.

Ao longo do tempo, as 32 famílias do Assentamento Nova Estrela foram se adaptando à região. Para terem mais força na produção, criaram uma associação e passaram a produzir coletivamente. O debate sobre a produção agroecológica entre as famílias foi mais lento, mas se desenvolveu bastante quando iniciaram o plantio de amora. Além de não utilizar mais químico, os agricultores também pararam de fazer a limpa da terra com as queimadas, técnica prejudicial ao solo.

“Com o passar do tempo, a gente sentiu a necessidade de fazer algumas mudanças. A primeira foi passar do trabalho individual para o trabalho coletivo. Para isso, criamos uma associação com nove agricultores e conseguimos alguma estrutura. Também mudamos nossa produção. Como é uma região que tem condições de produzir pequenos frutos, entramos na produção de amora. Mas também entramos meio sem iniciativa, sem conhecimento de mercado, qual o aproveitamento que poderia ser feito dela. Fomos nos aperfeiçoando aos poucos”, conta.