Fim de tarifa de importação elevará uso de agrotóxico

A Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados está pedindo o fim da tarifa de importação do glifosato produzido na China. A Comissão enviou sexta-feira (08/02) um ofício à Camex (Câmara de Comércio Exterior) solicitando a não renovação da tarifa para a matéria prima do herbicida Roundup.

A abertura de caminho para facilitar a importação do glifosato está ligada à aprovação e difusão da soja transgênica, que eleva o uso do glifosato no país. Isso porque a soja transgênica RR (Roundup Ready), da Monsanto, foi desenvolvida para resistir à aplicação do herbicida à base de glifosato (cujo nome comercial da Monsanto, que domina o mercado, é Roundup).

Com o uso da soja transgênica RR, os agricultores pulverizam o agrotóxico sobre a lavoura, eliminando todas as plantas invasoras, mas deixando intacta a soja transgênica (¾ dos transgênicos produzidos no mundo foram desenvolvidos para resistir à aplicação de herbicidas).

Se por um lado as empresas alegam que a tecnologia simplifica o trabalho de controle do mato, por outro, é evidente que o consumo do produto tende a aumentar em muito pouco tempo. Isto porque as plantas invasoras rapidamente também adquirem resistência ao produto, o que força o uso do veneno em quantidades cada vez maiores para garantir sua eficácia.

Outro resultado deste fenômeno é que as alegadas vantagens econômicas da tecnologia em pouco tempo são anuladas, pois a aquisição de veneno é um dos fatores que mais pesam nos custos de produção da agricultura convencional. Quanto maior a quantidade de veneno a ser usada, maior o gasto do agricultor.

Um estudo recente de pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna – SP) voltado para a análise dos potenciais impactos da soja transgênica no Brasil listou nove espécies de plantas capazes de driblar o glifosato. Quatro delas já desenvolveram resistência ao veneno nas lavouras brasileiras de soja transgênica e apresentam “grande potencial de se tornarem um problema”.

Essa pesquisa complementa dados do Ibama que indicam que para cada quilo de princípio ativo [de herbicida] reduzido no Rio Grande do Sul, houve um aumento de 7,5 kg de glifosato no período de 2000 a 2004, época de expansão da área da soja RR resistente ao glifosato no estado.

Em artigo publicado pela revista Ethical Corporation, uma porta voz do EuropaBio, grupo de lobby da indústria biotecnológica, admitiu que “os cultivos Roundup Ready levaram as plantas invasoras a se tornarem resistentes ao Roundup, o que resultou em maiores aplicações do produto, comumente em combinação com outros químicos”.

A demonstração científica dos efeitos cancerígenos, ação mutagênica, contaminação de alimentos e persistência do produto no solo e em cultivos recentemente motivou a reclassificação do glifosato pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) de “produto que não oferece perigo” para produto “altamente tóxico”.

Voltando à Comissão de Agricultura, não é por acaso que os mesmos deputados que vêm arduamente defendendo a liberação dos transgênicos no País durante os últimos anos agora defendem o barateamento do agrotóxico. São os mesmos deputados que sempre alegaram que a soja transgênica diminuiria o uso de agrotóxicos na agricultura, como Ronaldo Caiado (DEM-MG) e Luis Carlos Heinze (PP-RS). Este teve sua campanha financiada pela empresa Nortox, que produz um herbicida genérico à base de glifosato.

Após conseguir a liberação da soja transgênica, a Monsanto, que domina a produção das sementes transgênicas e controla 80% do mercado de glifosato no País, subiu o preço do veneno em 50%. E os agricultores que embarcaram na onda transgênica estão agora pagando o preço duplamente: não só se vêem forçados a usar maiores quantidades de agrotóxicos, como têm que pagar mais caro por eles.