Organização dos EUA ataca criminalização do MST

Guilherme Scarance
De O Estado de S. Paulo

Estimulada pela Via Campesina, a Friends of the MST (FMST) – “Amigos do MST” em inglês, organização que arregimenta apoio e doações internacionais ao Movimento dos Sem-Terra, sobretudo nos Estados Unidos – lançou campanha internacional contra a “criminalização dos ativistas”. Cobra, ainda, punição pela morte do militante Valmir Motta de Oliveira, o Keno, e ataca as ações da multinacional do agronegócio Syngenta no Brasil.

Em 21 de outubro, Keno e um segurança contratado pela Syngenta morreram baleados e oito sem-terra ficaram feridos, em confronto na fazenda experimental Syngenta Seeds, em Santa Tereza do Oeste (PR), a 530 quilômetros de Curitiba. Quatro seguranças e dois sem-terra respondem a processo, em liberdade, pelas mortes.

Em apelo veiculado no site em inglês do MST (www.mstbrazil.org), o coordenador do FMST nos Estados Unidos, Patrick Quirk, alerta para a “extrema violência” usada pela NF Segurança, que vigiava a fazenda. Ele pede que aliados do “Brazil?s Landless Workers Movement” enviem cartas à Syngenta e à Embaixada da Suíça – onde fica a sede da transnacional.

“É essencial continuar a pressionar a Syngenta a dispensar as milícias armadas que financia”, diz Quirk. “Sua atitude é crucial para pôr fim à injustiça e à impunidade no campo no Brasil. Aja agora!” Para o o líder paranaense do MST Roberto Baggio, a morte de Keno foi a “a ação mais violenta e bárbara dos últimos anos”, “um massacre”. Ele diz que MST, Via Campesina e outros movimentos se uniram para pressionar a Syngenta a “abandonar” o Brasil.

Patrocinadora de uma cruzada contra o agronegócio, A Via Campesina acionou militantes de movimentos sociais e direitos humanos mundo afora – Coréia, Timor Leste, Congo, Espanha, Canadá e Croácia, por exemplo – para enviar cartas à Syngenta e ao governo suíço.

Investigação

O inquérito policial só culpou seguranças pelas mortes, mas o Ministério Público acusou dois sem-terra. “Somos vítimas da violência e o Ministério Público quer nos transformar em réus”, reagiu Baggio. Para ele, houve um “ataque premeditado, com objetivo de matar”. O líder vê uma tentativa de “criminalizar a luta dos camponeses” e acusa a Syngenta de atuar ilegalmente e promover a violência.

Por nota, a Syngenta afirmou que o contrato com a NF “trazia cláusula expressa de vigilância não armada”. “A Syngenta condena qualquer tipo de violência e lamenta profundamente os trágicos eventos”, destaca. A empresa informa, por fim, que “sempre contou com todas as licenças” e “sempre respeitou a lei e as instituições brasileiras”. Procurados, os promotores do caso estavam fora de Cascavel, por licença médica e férias.