Acampamento Chico Mendes comemora quatro anos

Símbolo da luta pela terra em Pernambuco, o acampamento Chico Mendes, localizado no município de São Lourenço da Mata, entre a Região Metropolitana e a Zona da Mata Norte de Pernambuco, comemora amanhã (28/3) quatro anos de resistência.

Além de celebrar o aniversário do acampamento e os quatro anos vivendo, produzindo e criando seus filhos nessas terras, as famílias de Chico Mendes têm ainda mais motivos para comemoração: no dia 24 de dezembro do ano passado, foi publicado no Diário Oficial o decreto presidencial que declara o Engenho São João – onde está localizado o Acampamento Chico Mendes – área de interesse social para fins de Reforma Agrária.

Com esse decreto as famílias nutrem mais uma vez a esperança de serem assentadas na terra pela qual têm lutado há tanto tempo. Agora resta que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de Pernambuco faça seu papel, desapropriando a área e assentando as famílias o mais rápido possível.

Para comemorar os dois fatos, as famílias de Chico Mendes preparam uma série de atividades para todo o dia de amanhã. As atividades começam logo cedo, às 5:00 hs, quando as famílias farão uma distribuição de sementes e alimentos produzidos no acampamento na BR 408. As atividades seguem durante todo o dia, com ato ecumênico, apresentações de musica e dança, homenagens às mulheres e apresentação de um filme, às 18:00 hs.

Símbolo de Luta e Resistência

O Engenho São João foi ocupado pela primeira vez em 2004. O Engenho faz parte do complexo da Usina Tiúma, falida e improdutiva há mais de 20 anos. Mas com a revalorização da cana-de-açúcar para produção de etanol, o Grupo Votarantim, “proprietário” da Usina, voltou a ter interesse na área. O Grupo entrou, então, com recurso de reintegração de posse e se recusava a receber as notificações do Incra, impedindo a vistoria da área.

Em julho de 2005, as 500 famílias do que viviam no Acampamento há cerca de um ano e meio, sofreram um violento despejo que destruiu todas as casas e lavouras. O acampamento foi cercado por policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar de Pernambuco e imprensa, parlamentares e representantes de entidades de direitos humanos foram impedidos de entrar na área.

Mas apesar do trauma causado pela violência do despejo, em menos de um ano as famílias já estavam prontas para retornar à terra onde haviam morado e plantado. A área foi re-ocupada durante a Jornada Nacional de Luta pela Reforma Agrária, em abril de 2006. Em agosto do mesmo ano uma nova liminar de reintegração de posse ameaçou as famílias de Chico Mendes de mais um despejo. O acampamento foi novamente cercado por mais de 500 policiais da tropa de choque, mas a resistência das famílias, que se recusaram a sair de suas casas, e negociações entre os governos estadual e federal evitaram o despejo.

Desde então as famílias viviam a insegurança de uma nova reintegração de posse. Grupos de direitos humanos lançaram uma campanha para pressionar o Grupo Votorantim a negociar a área com o Incra, mas a recusa da transnacional em negociar mantinha a ameaça constante de
despejo.

O decreto assinado no ultimo dia 24 de dezembro representa mais uma vez a esperança dessas famílias de viver com dignidade, sem que seus filhos sofram com a instabilidade de a qualquer momento poder perder sua casa, sua escola e seu sustento.