Sem Terra ocupam área da Aracruz na Bahia

Aproximadamente 550 famílias do MST ocuparam no sábado (05/04), a Fazenda Bela Manhã, do grupo Aracruz Celulose, em Teixeira de Freitas, na Bahia. Estas famílias, que estavam acampadas em terreno da Ceplac, estão na luta pela terra desde o mês de abril do ano passado, quando ocuparam uma área ligada à Suzano Papel e Celulose. Na ocasião, foi costurado um acordo com o Incra e o Governo do Estado, em que este se comprometeu com a aquisição de terras para o assentamento de 1.000 famílias. “O Governo está sendo extremamente vagaroso, sem tomar iniciativas para agilizar a desapropriação de terras e insistindo em tratar a reforma agrária como caso de polícia” denuncia Evanildo Costa, da direção estadual do MST-BA.

A área reivindicada, de 2,4 mil hectares de terra, é considerada improdutiva e suspeita de grilagem. “Apenas 200 hectares são de propriedade da Aracruz, o restante são terras devolutas do Governo do Estado. Esta terra deve ser desapropriada pra assentar famílias da região, que vêm sendo sistematicamente excluídas pelo modelo de monocultura pra exportação implementado pelo agronegócio”, afirma Evanildo. A Aracruz Celulose é uma das cinco empresas responsáveis pela monocultura do eucalipto, ou “deserto verde”, no extremo sul da Bahia. Em parceria com a sueco-finlandesa Stora Enzo, controla ainda a Veracel, que foi ocupada em 2004 pelo MST, em uma grande ação que questionava ainda o conceito de produtividades e o modelo de desenvolvimento imposto à região.

“De 1970 a 1985, a Bahia perdeu 70% de suas matas nativas com a chegada das empresas de papel e celulose. O extremo sul tem apenas 4% da Mata Atlântica original, em áreas de reserva, e estima-se que mais da metade das terras agricultáveis estejam nas mãos das empresas. O modelo de desenvolvimento imposto pelos Governos para esta região tem destruído sistemas inteiros de vida vegetal e animal. A expulsão dos trabalhadores rurais, quilombolas, pequenos agricultores e índios do campo gerou um crescimento significativo das favelas, desagregação de grupos e famílias, violência e miséria” explica Ivonete Gonçalves, coordenadora do Cepedes (Centro de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento do Extremo Sul da Bahia).

A ocupação em Teixeira de Freitas integra uma série de ações desenvolvidas pelo movimento desde o mês passado, quando cerca de três mil trabalhadores rurais sem terra do MST e da CETA (Movimento de Trabalhadores Assentados, Acampados e Quilombolas) ocuparam o Incra e a Secretaria Estadual de Agricultura.. A Bahia é o estado brasileiro com maior quantidade de famílias acampadas (25 mil famílias em 230 acampamentos). Em 2007, aconteceram 93 ocupações, envolvendo cerca de 18 mil famílias. Este ano já aconteceram 15 ocupações de terra no estado, e deve acontecer uma série especial de ações neste mês de abril.