Arrozeiros de Roraima insistem na guerra contra indígenas

Os arrozeiros que há duas semanas guerreiam contra indígenas da reserva Raposa Serra do Sol anunciaram receber apoio de ex-militares da Venezuela. Envolvidos com o golpe de Estado de 2002 contra o governo Chávez, os ex-militares colaboraram nas ações de ataque contra a operação da Polícia Federal, Upatakon 3, montada para garantir a retirada dos fazendeiros da reserva indígena.

A situação provocada pelos arrozeiros é grave. Há três semanas os indígenas da região vêm sofrendo diariamente com ataques armados promovidos pelos produtores de arroz. Porém suas manifestações de violência não são de hoje. Em 2005, organizaram um grupo de jagunços que atacou uma escola católica que promove a formação técnica para indígenas.

O novo superintendente da Polícia Federal (PF) em Roraima, José Maria Fonseca, afirmou que os arrozeiros que permanecem na reserva indígena Raposa Serra do Sol enganam a população e incitam a prática de crimes. De acordo com Fonseca, um grupo pequeno tem interesse econômico na área e danifica bens públicos para impedir o trânsito pela região.

A PF já encontrou na região pontes derrubadas, escavações em estradas com pregos espalhados, além de balsas e pistas de pouso interditadas. O CIR calcula que a destruição do acesso deixou mais de 10 mil índios isolados. Segundo Fonseca, os arrozeiros têm utilizado também coquetel molotov e bombas, além de utilizar índios, idosos e crianças como escudo para se defender. “Todos devem ser rigorosamente punidos pela lei”, afirmou Fonseca.

Entenda o conflito

A homologação do decreto de 2005 que estabelece a demarcação da área da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, tem causado a ira dos produtores de arroz da região, que iniciaram uma guerra contra as comunidades indígenas que nela habitam.

O governo federal prometeu cumprir nesta semana a operação de retirada dos arrozeiros da reserva. Mesmo com as intimidações e manifestações, comandadas por fazendeiros e políticos, o governo promete não recuar e cumprir a lei. Há cerca de uma década, os arrozeiros invadiram ilegalmente o território, que já era considerado área indígena.

Após a notícia de que seria iniciada a operação de retirada dos invasores da terra, empregados do rizicultor Paulo César Quartieiro intensificaram as ameaças e agressões aos povos indígenas. Presidente da Associação dos Arrozeiros do Estado, Quartieiro foi preso na tarde de 31/3 pela Polícia Federal, por dano ao patrimônio e desacato à autoridade, mas foi libertado na noite do mesmo dia após pagamento de fiança.

Atentados contra as comunidades
Do Brasil de Fato

Os recentes atentados contra as comunidades indígenas tiveram início seis dias antes da prisão de Quartieiro, quando, em 25 de março, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) julgou o processo que assegurou ao rizicultor o retorno ao cargo de prefeito do município de Pacaraima (RO). O mandato de Quartieiro havia sido cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral de Roraima, em 2006. A sede de Pacaraima está localizada na terra indígena São Marcos e tem abrangência até a Raposa Serra do Sol. Segundo a coordenação do CIR, Quartieiro utiliza o mandato de prefeito para interferir na organização social das comunidades de indígenas.

Na noite do dia 25, empregados do rizicultor juntaram-se a moradores não-índios que ainda permanecem na comunidade de Barro, na região de Surumu, para comemorar o retorno de Quartieiro à Prefeitura de Pacaraima. Após várias manifestações regadas a bebidas alcoólicas, saíram em passeata pelas ruas que atravessam a comunidade indígena. Lançaram foguetes em direção às casas de palhas dos indígenas e ameaçam a comunidade. Ficaram lá até às 3h da madrugada e informaram que voltariam na noite seguinte para incendear quatro casas.

Mas no dia 26 as lideranças indígenas se reuniram com representantes de órgãos envolvidos na operação de desintrusão da terra indígena – conhecida como Upatakon 3 – quando foram informadas que seria iniciada a retirada dos não-índios de Raposa Serra do Sol. À noite, um grupo de empregados de Quartieiro, conhecidos como “motoqueiros”, incendiaram a maloca da comunidade indígena que vive em Surumu. O fogo foi controlado pelos próprios indígenas antes que se alastrasse.