CMS amplia convocação para ato contra alta dos juros

As entidades que compõem a CMS (Coordenação Nacional dos Movimentos Sociais) decidiram ampliar a mobilização para os atos do próximo dia 19 de junho, em frente ao Banco Central, em Brasília. Em reunião realizada nesta quinta-feira (05/06), na sede nacional da CUT, em São Paulo, a CMS fez um primeiro balanço da convocação. Participaram do encontro representantes da CUT, CTB, CGTB, MST, UNE, Ubes, Marcha Mundial de Mulheres, UBM e Unegro.

O principal ato terá como palavra-de-ordem “Menos juros, mais desenvolvimento”. É a síntese para uma ampla mobilização nacional contra a política de juros altos do BC e a favor do desenvolvimento do país. Na tarde do mesmo dia 19, as entidades farão, em local ainda a ser confirmado, um ato
de solidariedade ao povo cubano e contra o imperialismo norte-americano na parte da tarde.

Na avaliação de João Paulo Rodrigues, da direção nacional do MST, é fundamental a ação unitária das entidades do movimento popular para barrar a política de especuladores e transnacionais contra um projeto nacional soberano. O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra realizará grandes
mobilizações a partir do dia 9, alertando para os prejuízos do agronegócio e da especulação no setor de alimentos, que atenta contra a soberania alimentar.

João Batista Lemos, secretário adjunto de Relações Internacionais da CTB, reforçou o compromisso de mobilizar dirigentes e militantes da central para o dia 19. “A decisão do Copom de elevar a taxa Selic em mais meio ponto foi uma demonstração clara de que os movimentos sociais precisam apostar todas as fichas nesta mobilização”, disse Batista. “O eixo político ‘Menos juros, mais desenvolvimento’ expressa bem a importância desta manifestação.”

Para Antonio Carlos Spis, da executiva nacional da CUT e da CMS, “ao aumentar a taxa Selic em 0,5%, quarta-feira, o senhor Henrique Meirelles conseguiu acirrar ainda mais os ânimos do movimento social, que decidiu ampliar a convocação do protesto, para reverter a atual política de juros e superávit primário nas alturas, que atenta contra o interesse do país e do povo brasileiro”.

Flávia Calé, diretora de universidades públicas da UNE, disse que a política de juros do BC é um problema crônico. “Ela impede o crescimento com distribuição de renda para favorecer o capital especulativo”, afirmou. “É uma grande contradição, irreconciliável, que trava o desenvolvimento
nacional.” Flávia explica que a UNE realizará o Conselho Nacional de Entidades Gerais (Coneg), que começará com este ato político no BC.

Manifesto

A CMS lançou um manifesto de convocação para o dia 19 de junho, em que condena o assalto aos cofres públicos: “Os números comprovam que o gasto com juros em apenas quatro meses é imensamente superior a todos os investimentos previstos no Orçamento da União de 2008, que mal chegam a R$ 40 bilhões”.

A CMS aprovou também uma carta de solidariedade em defesa do povo e do governo bolivianos contra a ingerência norte-americana, que “denuncia a ingerência do governo norte-americano, que estimula e financia a divisão do país”. “Frente aos inegáveis avanços sociais obtidos com o governo popular e democrático de Evo Morales, grupos fascistas e mercenários – a soldo dos grandes latifundiários que resistem à reforma agrária – e testas-de-ferro das transnacionais contrárias à retomada do patrimônio público pelo Estado, buscam fazer a roda da história girar para trás”, condena o documento.

Segundo a CMS, ao erguer a bandeira do separatismo em Santa Cruz, beni Pando e Tarija, a pretexto das chamadas autonomias departamentais, a direita boliviana, em sintonia com o governo dos EUA, investe no enfraquecimento da nação, na ânsia de conter mudanças que põem em xeque seu histórico, retrógrado e excludente domínio”.

As entidades se manifestaram solidárias aos sindicalistas colombianos que vêm sendo assassinados impunemente todos os dias em função da política de terrorismo de Estado vigente naquele país.

Leia abaixo a íntegra do manifesto da CMS para o dia 19.

Menos juros, mais desenvolvimento

Em defesa do Brasil e do povo brasileiro, vamos às ruas no próximo dia 19 de junho, realizando em Brasília uma grande manifestação em frente ao Banco Central. Por menos juros e mais empregos, por uma reforma tributária que garanta justiça social; por uma reforma agrária que dê terra a quem nela mora e trabalha; por uma reforma urbana que garanta moradia digna à população de baixa renda e combata à especulação imobiliária; por uma reforma educacional, que amplie o financiamento público e amplie a democracia e qualidade do ensino; por uma reforma política que aprimore e fortaleça a participação popular, colocando o povo como protagonista da sua
própria história; e da democratização dos meios de comunicação, que em nosso país têm cada vez mais confundido liberdade de imprensa com liberdade de empresa, manipulando, mentindo e criminalizando os movimentos sociais.

De costas às necessidades do povo brasileiro, que cobra mais recursos para a saúde, habitação, educação, reforma agrária e urbana, o Banco Central, com o tucano Henrique Meirelles à frente, mantém sua política monetária de juros altos e elevado superávit primário. Assim, continua assaltando os cofres públicos para transferir gigantescos recursos da produção e do desenvolvimento nacional para o cassino da especulação. É uma lógica perversa, que atenta contra os interesses do país, pois cria um círculo vicioso de juros altos, aumento da dívida pública, juros altos, aumento da dívida…

Os gastos do governo federal no primeiro quadrimestre demonstram que já foram sangrados do Orçamento – e pagos em juros e encargos da dívida pública – nada menos do que R$ 44,441 bilhões. Os números comprovam que o gasto com juros em apenas quatro meses é imensamente superior a todos os investimentos previstos no Orçamento da União de 2008, que mal chegam a R$
40 bilhões.

A irracionalidade desta lógica fiscalista de Meirelles, mantida pelo governo Lula, é facilmente comprovada: embora sangre o país para manter em dia os pagamentos aos especuladores, os juros estratosféricos elevaram a dívida líquida do setor público para R$ 1,14 trilhões (41,2% do PIB) em março. Ou seja, quanto mais o país paga, mais deve.

Como bem demonstra o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o caminho do desenvolvimento é outro. Passa pelo fortalecimento do papel indutor do Estado, pela garantia de contrapartidas sociais para os investimentos com recursos públicos, pela indução do crescimento com geração de emprego e distribuição de renda.

Juntos, começamos a construir um novo tempo. Agora, com a nossa unidade e mobilização, removeremos os obstáculos que impedem o pleno desenvolvimento das imensas potencialidades de um país rico, de um povo criativo, honesto e trabalhador, que merece e vai ser sujeito de seu destino.