População de Cascavel não atende convocatória de ruralistas

Pedro Carrano

Pouco mais de 50 pessoas atenderam ao apelo da SRO (Sociedade Rural do Oeste), ao lado de entidades patronais de Cascavel (PR). A entidade ligada ao agronegócio local tentou barrar a entrada da Via Campesina na Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná), para a realização da 7ª Jornada de Agroecologia, que começou quarta-feira (23/07). Mas não foi possível por causa do cerco da polícia, que desmobilizou a ofensiva dos fazendeiros. Na mesma manhã, a universidade recebeu cerca de 3.500 pessoas, entre pequenos agricultores da Via Campesina, estudantes, visitantes e articulação de movimentos sociais da cidade.

A desmobilização do ato ruralista ocorreu em meio a ameaças e convocatórias feitas pelo presidente da SRO, Alessandro Meneghel, nos meios de comunicação locais. Nas duas últimas semanas, Meneghel havia dado declarações na mídia local como esta: “Vamos impedir este evento e protestar contra a mentira e a politicagem barata que prega esse movimento de agrovagabundagem”. A SRO é conhecida pelo histórico recente de perseguição contra acampamentos Sem Terra, por meio do seu braço armado, o MPR (Movimento dos Produtores Rurais). A entidade também é acusada de comandar a morte do militante Keno, através da empresa de Segurança NF, em novembro de 2007, na área de experimentos da Syngenta Seeds, ocupada pela Via Campesina como forma de denúncia.

A conjuntura de criminalização dos movimentos sociais, a articulação do agronegócio com o sistema Judiciário e com o Ministério Público também reflete na região de Cascavel, como define José Maria Tardin, da Via Campesina, um dos organizadores da Jornada de Agroecologia. De acordo com Tardin, a Jornada é uma forma de contraposição ao modelo do agronegócio e a ofensiva do agronegócio revela, ao mesmo tempo, o elemento do próprio desgaste deste modelo de produção, como Tardin avalia.

Comenta que a agroecologia busca um espaço de luta política, para que possa se desenvolver e afirmar como técnica para a maioria dos camponeses. “No Brasil, não temos políticas direcionadas para a agroecologia, mas um programa estrutural direcionado para o agronegócio. A Jornada cumpre o papel de revelar à sociedade este método que contesta o das transnacionais, que controlam os alimentos e colocam o preço que querem”, comenta.

A ameaça do presidente da SRO conflui com a criminalização de membros do movimento no Paraná. Na mesma época da Jornada, uma marcha de 350 quilômetros na região Sudoeste do estado vem denunciando a criminalização do movimento social, a reforma agrária, e a denúncia da prisão de membros do movimento no estado.

Darci Frigo, da organização de direitos humanos Terra de Direitos, avalia que o risco na 7ª edição da Jornada de Agroecologia é concreto. Como medida, os movimentos articularam-se, de acordo com ele, com autoridades federais, estaduais, do Incra e com movimentos sociais do campo e da cidade.

Truculento

Meneghel tem experiência em bloquear marchas dos movimentos do campo. Por trás dele, a Sociedade Rural do Oeste (SRO) é representante de classe do agronegócio local e se articula com a Acic (Associação de Comércio e Indústria de Cascavel) e Sindicato Rural de Cascavel. Em novembro de 2006, durante a Jornada de Educação do MST, os ruralistas da SRO se confrontaram contra os militantes que marchavam de maneira pacífica.

Meneghel também faz ameaças declaradas contra os Sem Terra. Em maio de 2008, após ataque da milícia ao acampamento Primeiro Passos, do MLST, Alessandro Meneghel, saiu em defesa do ruralista Orlando Gomes, dono do chamado “caveirão do agronegócio” utilizado para destruir as plantações, escola e até a igreja do acampamento. O “caveirão” é um caminhão adptado com uma grade “quebra-mato” na dianteira, lateral revestida com proteção de placas de ferro e pequenas aberturas para o disparo com armas de fogo.