Fazenda de Dantas é ilegal

Do Conversa Afiada

Integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) ocuparam nesta sexta-feira (25/7), a Fazenda Maria Bonita, em Eldorado dos Carajás (PA), que pertence ao grupo Opportunity, controlado pelo banqueiro Daniel Dantas. O integrante da coordenação nacional do MST Ulisses Manaças disse em entrevista ao Conversa Afiada que o movimento é uma forma de protesto contra a corrupção no país.

Manaças explica por que o MST ocupou terras de Daniel Dantas no Pará: “Primeiro, porque esse processo de envolvimento do banco Opportunity com terras é uma forma de lavagem de dinheiro que foi, na verdade, usurpada da União. Segundo, porque as próprias terras compradas pelo Opportunity pertenciam a pessoas que receberam aforamento do Estado paraense, no caso da família Mutran. São terras públicas, comprovadamente públicas. Além dessas, ainda existe a Espírito Santo, ainda existe a fazenda Cedro, que foram terras que o Estado cedeu há mais de 20 anos para a família Mutran e eles nunca devolveram ao erário da União”.

Segundo Manaças, a ocupação também é um protesto contra a campanha de criminalização do MST. “Criminosos não são os movimentos sociais, não são os defensores dos Direitos Humanos, são pessoas de grupos econômicos e financeiros, que têm especulado com terras públicas da região amazônica”, disse Manaças.

Segundo o MST, a fazenda Maria Bonita foi comprada ilegalmente em 2005 pela empresa Agropecuária Santa Bárbara Xinguara, que pertence ao grupo Opportunity, controlado pelo banqueiro Daniel Dantas. O MST diz que a área é pública e deve ser destinada à Reforma Agrária. Manaças disse que, segundo o Iterpa (Instituto de Terras do Pará), a área pertence ao Estado e, por isso, sua venda era proibida.

Ulisses Manaças disse que o MST quer a desapropriação da fazenda Maria Bonita e usar a área para assentamento de famílias sem terra.

A fazenda Maria Bonita tem cerca de três mil hectares de extensão. Isso corresponde ao tamanho de três mil campos de futebol. A fazenda é usada para a criação de gado. Mas não há a informação oficial da quantidade de gado que há na fazenda. Segundo levantamento do Iterpa, o grupo Opportunity, controlado por Daniel Dantas, seria dono de cerca de 450 mil cabeças de gado em todo o estado do Pará.

Leia a íntegra da entrevista com Ulisses Manaças:

Integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) ocuparam nesta sexta-feira a Fazenda Maria Bonita, que fica em Eldorado dos Carajás (PA) e pertence à Agropecuária Xinguara, que, por sua vez, pertence ao grupo Opportunity, controlado pelo banqueiro Daniel Dantas. Sobre esse assunto, eu converso agora com o senhor Ulisses Manaças, que é da coordenação nacional do MST. Senhor Ulisses, por que a decisão do MST de ocupar essa fazenda que pertence ao grupo Opportunity, ao grupo do Daniel Dantas aí no Pará?

Bom, na verdade, essa ação faz parte da Jornada Nacional de lutas do MST, pela Reforma Agrária, mas também significa uma ação concreta do nosso movimento contra esse processo de corrupção nacional, que tem um reflexo na própria região amazônica, onde as terras da região amazônica tem sido fruto de ações de grupos financeiros para lavagem de dinheiro. Então, a nossa ação tem essa intenção de retomar essas que são públicas, segundo o Iterpa, Instituto de Terras do Pará para o assentamento imediato de famílias sem terra.

Então a gente pode entender que é uma ação de protesto contra essa questão da corrupção no país?

Exatamente. Na verdade, ela tem uma simbologia, é uma ação que ao mesmo tempo é em favor da Reforma Agrária, mas também contra esse processo de corrupção e passividade da própria Justiça brasileira, onde procura criminalizar os movimentos sociais na atualidade, mas deixando comprovadamente corruptos fora da cadeia.

E é então, também, um movimento que tenta, além de protestar contra essa questão da corrupção, lutar contra a criminalização do MST?

Exato. O MST tem passado por um processo de criminalização que deixou de ser somente uma bandeira de orientação política. Na verdade, são ações concretas articuladas por setores não só conservadores do Judiciário brasileiro, mas também por empresas internacionais, que têm tentado repassar uma imagem de movimentos criminosos, bandidos, terroristas, como são os adjetivos utilizados e têm pressionado o próprio Estado para que tenha medidas contrárias, inclusive sugerindo textualmente a extinção do Movimento Sem Terra. O caso mais claro é o pedido da Justiça para que o MST pague uma indenização de mais de R$ 5 milhões para a Companhia Vale. E isso para nós é uma arquitetura muito perversa, que coloca o movimento na marginalidade, com o sentido claro de tomar medidas contra a democracia. Então para nós é um repúdio a esse processo de criminalização também, para dizer o seguinte: criminosos não são os movimentos sociais, não são os defensores dos Direitos Humanos, são pessoas de grupos econômicos e financeiros, que têm especulado com terras públicas da região amazônica.

Qual é a fonte maior dessa campanha de criminalização do MST, na opinião do senhor?

Para nós é um preconceito de setores conservadores que querem impedir o avanço da democracia. Em qualquer país civilizado do mundo a questão da Reforma Agrária já foi resolvida. Então o Brasil permanece com esse atraso secular e colonial, que nos cola ao processo de colonização do nosso território. Portanto, a luta do MST é uma luta pela cidadania, pela democracia e, acima de tudo, um contraponto a esse processo da crise de alimentos no mundo. Então, no nosso entendimento, é uma reação de setores conservadores que não querem alterar o quadro da democracia no país.

O senhor está no Pará neste momento?

Exatamente.

O senhor participou dessa ocupação das terras do Daniel Dantas?

Eu acabei de sair da região. Estou agora em Belém. Eu participei da ocupação logo cedo, pela manhã, 05h da manhã, e vim para Belém.

E porque a decisão de ocupar terras que pertencem ao grupo Opportunity, do Daniel Dantas?

Primeiro, porque esse processo de envolvimento do banco Opportunity com terras é uma forma de lavagem de dinheiro que foi, na verdade, usurpada da União. Segundo, porque as próprias terras compradas pelo Opportunity pertenciam a pessoas que receberam aforamento do Estado paraense, no caso da família Mutran. São terras públicas, comprovadamente públicas. Além dessas, ainda existe a Espírito Santo, ainda existe a fazenda Cedro, que foram terras que o Estado cedeu há mais de 20 anos para a família Mutran e eles nunca devolveram ao erário da União.

Uma outra pergunta, em relação a outro fato que ocorreu no Pará, que é a condenação de alguns líderes que pertenceriam ao MST e participaram da ocupação das ferrovias da Vale. O que o MST pretende fazer a respeito desse assunto?

Primeiro que isso é uma condenação absurda. Ela demonstra mais uma vez a parcialidade do Judiciário brasileiro. R$ 5 milhões, nem o MST tem no Brasil inteiro, não tem esse recurso. E muito menos um cidadão chamado Erival Martins, que é o único que pertence ao MST, Erival Martins é da direção do nosso movimento aqui no Pará. Os outros dois são líderes do movimento MTM, que é o Movimento dos Trabalhadores da Mineração. Também são pessoas expropriadas de bens, porque são garimpeiros, lutam até hoje por uma indenização, por uma garimpagem. Então, essas pessoas não têm patrimônio, nunca acumularam patrimônio. Portanto, para nós é uma ação simbólica na tentativa de calar ou de neutralizar a ação dos movimentos sociais na região. Primeiro que o MST ainda não foi notificado dessa decisão judicial. Na medida em que nós formos notificados… Nós só soubemos dessa decisão a partir da imprensa. Então, na medida em que nós formos notificados dessa decisão, o MST vai se manifestar.

Então vai esperar a notificação oficial para depois se manifestar, é isso?

Exatamente.