Usina com trabalho escravo é alvo de protesto das mulheres em PE

Mulheres da Via Campesina realizaram nesta segunda-feira (9/3) um protesto em frente à Usina Cruangi, localizada no município de Aliança, Zona da Mata norte de Pernambuco. Portando bandeiras e faixas com dizeres como ““Trabalho Escravo, vamos abolir de vez essa vergonha!”” e ““Em cada grama de açúcar, uma tonelada de injustiça!””, as mulheres protestaram contra o modelo de monocultivo da cana e o trabalho escravo e infantil nas Usinas do estado.

Em fevereiro desse ano o Grupo Móvel de Fiscalização contra o trabalho escravo do Ministério do Trabalho realizou visitas em várias usinas e engenhos da Zona da Mata Norte de Pernambuco e encontrou várias irregularidades. Na Usina Cruangi foram resgatados 252 trabalhadores rurais em regime de escravidão, dentre eles, 27 menores de idade. Segundo dados da CPT, o setor sucroalcooleiro foi o ramo da economia que mais se utilizou da mão-de-obra escrava no ano de 2008, representando 49% dos trabalhadores encontrados em regime de trabalho escravo no país.

Em Pernambuco, foram encontrados 529 trabalhadores em situações de escravidão e super exploração nas usinas do estado, no ano passado. Apesar da Constituição brasileira prever a desapropriação para fins de Reforma Agrária de áreas que não cumprem sua função social, a Usina Cruangi, como acontece na maioria dos casos em que o Grupo Móvel resgata trabalhadores em regime de escravidão, paga uma multa e segue funcionando normalmente.

Por isso, as mulheres da Via Campesina lutam pela aprovação da PEC 438, que prevê a desapropriação de terras onde sejam encontrados trabalhadores em situação análoga à de escravo. Após sair da Usina as trabalhadoras seguiram para o Centro de Timbaúba, também Zona da Mata norte, e distribuíram materiais educativos da Campanha Nacional pela aprovação da PEC 438. A ação das camponesas em Pernambuco fez parte da jornada Nacional de luta das Mulheres da Via Campesina contra o agronegócio e em defesa da Reforma Agrária e da Soberania Alimentar.

Aconteceram ações em diversos outros estados do Brasil e as mobilizações continuarão durante toda a semana. Amanhã acontecerão mobilizações em vários municípios do sertão Pernambucano, como Petrolina e Petrolândia. As mulheres da Via Campesina também lutam e reivindicam iniciativas que garantam a Soberania Alimentar e Energética do povo brasileiro e defendem a agroecologia como projeto político para o campo. Para as organizações que compõem a Via Campesina, a situação de miséria e escravidão no campo se agrava ainda mais com o aumento dos investimentos estatais e privados destinados ao agronegócio e para impulsionar a produção dos agrocombustíveis.

Policia tenta impedir manifestação e trabalhadoras são agredidas – Quando as trabalhadoras chegaram em marcha em frente à Usina, dezenas de policiais, além dos seguranças privados, já estavam no local. Convocados pela Usina, eles tentaram impedir a passagem das camponesas e fizeram um cordão de isolamento para que as mulheres não entrassem no parque industrial. Apesar da manifestação ter sido pacifica, os policiais seguiram provocando e empurrando as trabalhadoras durante todo o ato, chegando a agredi-las. No confronto um trabalhador que foi defender as mulheres foi detido.