Os pratos estão vazios em escolas da rede estadual de ensino do RS

Prateleiras sem alimentos e panelas sem utilidade no fogão. Esta é a situação atual de despensas e cozinhas de parte das escolas da rede estadual de ensino. Desde o começo do ano letivo, a rede estadual sofre com a falta de merenda para fornecer aos alunos. Os estoques estão acabando, e a situação deve piorar.

Doze milhões de reais para este fim estão retidos pelo FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Segundo o FNDE, a verba foi retida porque o governo gaúcho não se adaptou às exigências do Programa Nacional de Alimentação Escolar.

Numa escola estadual do município de Gravataí, na Grande Porto Alegre, a situação é tão grave que a direção enviou bilhetes para os pais, na semana passada, explicando a dificuldade de ofertar os alimentos. “Só temos vinagre, açúcar, sal, um pacote de arroz, leite em pó e uns 2 kg de feijão”, desabafou uma das vices-diretora da escola, que possui 373 alunos matriculados.

Enquanto a Procuradoria-Geral do Estado ingressou com recurso contra a medida do FNDE na Justiça e a Secretaria da Educação promete repassar a primeira parcela nos próximos dias, as escolas vivem uma situação dramática.

“Fechar as Escolas Itinerantes é um ataque à escola pública”
Da Radioagência NP

Recentemente, um conjunto de educadores lançou um manifesto exigindo a reabertura das Escolas Itinerantes ligadas ao MST no Rio Grande do Sul, fechadas a pedido do Ministério Público. O escritor uruguaio Eduardo Galeano, os professores de universidades públicas do Rio de Janeiro, como Emir Sader, Roberto Leher, Virgínia Fontes, entre outros, afirmam que a medida faz parte do processo de perseguição política ao MST no estado.

Segundo o poder público no Rio Grande do Sul, o funcionamento das escolas itinerantes não está adequado às normas brasileiras. A governadora do estado, Yeda Crucius (PSDB), reproduziu uma informação da revista Veja, para afirmar que estas escolas estão formando “revolucionários”.

A Radioagência NP foi ouvir a posição dos signatários do manifesto, que consideram o fechamento das escolas inconstitucional. Durante a entrevista, o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Roberto Leher , afirmou que a medida é um ataque à liberdade teórica e de crítica. Uma tentativa de silenciar uma das experiências que alimenta a esperança da melhoria da educação pública brasileira.

Roberto, o conteúdo da educação das escolas itinerantes é inadequado às diretrizes educacionais brasileiras?

A organização curricular é fundamentalmente a mesma das escolas públicas. O MST compreende que é necessária uma base educacional comum para todo o povo. O que o MST inova é dar vibração da vida aos conteúdos que estão sendo trabalhados. A base curricular não é profundamente distinta, mas a forma como são abordados os conteúdos, dentro de uma perspectiva distinta da escola pública em geral, na medida em que a pedagogia do MST recupera elementos da pedagogia de Paulo Freire que, justamente, estão defendendo que o conteúdo, a ciência, deve ser uma ferramenta para a gente pensar criticamente o mundo. E essa é uma contribuição magistral para a educação brasileira.

Por que?

Muitos ensinamentos são feitos para as crianças de uma forma puramente mecânica e essas informações não permitem as crianças raciocinarem valendo-se do conhecimento científico. A escola pública brasileira vive uma crise muito profunda. A escola pública está com dificuldade de interagir com as crianças e com o jovem e eu creio que a experiência do MST nos ajuda a reconciliar a escola pública, o trabalho docente, com a vida social dinâmica, como um pensamento educacional para aproximar a escola pública da vida real das pessoas, para que as pessoas se reconheçam naquela escola pública.

Mas o poder público gaúcho chama isso de apropriação indevida da escola pública pelo MST.

O maior equívoco é não compreenderem que uma escola, se ela é de fato pública, ou seja, do povo, ela tem que ser uma escola que dialogue e interaja com o protagonismo social. Isto não é uma idéia que é necessariamente da esquerda, porque é um ideal que está no pensamento liberal do século 18 para o século 19. Eles estão impedindo que os cidadãos possam expressar o seu ponto de vista e possam ser sujeitos e protagonistas da organização do público. Eles estão impedindo a existência de uma reflexão própria e de contribuições originais que são importantes para escola pública, para um conceito moderno de público.

Então, qual seria a justificativa educacional para o fechamento das escolas itinerantes?

Uma pessoa que tem formação ampla e universal é capaz de se indignar diante das injustiças porque ela compreende a raiz social dessas injustiças e é isso que incomoda na pedagogia do MST. Os governos federal e estaduais estão deslocando a responsabilidade do pensamento pedagógico para os empresários, ONGs ligadas aos empresários. São essas pessoas que estão definindo o que é o caráter da escola. O curioso é que o Ministério Público deveria se posicionar, porque eles estão adotando uma postura particularista, não estão buscando uma perspectiva universal, eles querem formar as crianças em uma perspectiva unilateral, da escola vinculada à visão de mundo dos empresários. Contra isso, o Ministério Público não se insurgiu.