Um mar de barracos de lona

O que começou com 150 famílias, na madrugada do dia 9/4, já alcança a marca de 978 barracos cadastrados e numerados até a tarde desta segunda-feira (13/04). Batizada de Dandara, em homenagem a companheira de Zumbi dos Palmares, a ocupação rururbana, em Belo Horizonte (MG), foi realizada conjuntamente pelo Fórum de Moradia do Barreiro, as Brigadas Populares e o MST. A ação reforça as lutas sociais pela função social da propriedade (previsto no inciso 23 do artigo 5º da Constituição Brasileira) e inaugura em Minas Gerais a aliança entre os atores da Reforma Agrária e da Reforma Urbana.

As famílias ocupam 10% de um terreno de mais de 40 hectares, supostamente pertencente à Construtora Modelo. Os manifestantes apontam que o terreno, localizado no bairro Céu Azul, está abandonado há muitos anos e possui dívida de mais de R$ 18 milhões, por não pagamento do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano).

Na noite de quinta-feira (9/4), sem mandato de reintegração de posse, a polícia tentou despejar as famílias, com a atuação violenta de mais de 150 homens, e usando de artifícios como explosão de bombas, gás de pimenta e destruição de barracos.

Mas as famílias resistiram e outras vieram se somar à ocupação. “Foi chegando gente da comunidade do entorno, e outras pessoas que foram mobilizadas pelo trabalho de base. E as ameaças da polícia não pararam. Apesar de a empresa não ter conseguido liminar na primeira instância, por não ter sua posse comprovada, a polícia não sai daqui. Agora mesmo, tem um microônibus do choque, mais uns dez homens da cavalaria e um helicóptero rondando”, conta Joviano Mayer, das Brigadas Populares.

As famílias exigem uma reunião com o governo Aécio Neves, para discutir uma política de moradia para a população de baixa renda. “Em sete anos, esse governo não construiu uma casa para os sem-teto da capital. Não há uma política habitacional para quem recebe menos de dois salários mínimos”, aponta Joviano.

A idéia é pedir a divisão em lotes que ajudem a solucionar o passivo de moradia de Belo Horizonte, hoje avaliado em 100 mil unidades, das quais 80% são de famílias com ganhos abaixo de três salários mínimos. E também contribuir na geração de renda e na segurança alimentar, ao adotar-se um sistema de agricultura periurbana, em que cada lote destine uma área de terra possível de se tirar subsistência ou complemento de renda e alimentação saudável.

A ocupação Dandara já possui seu próprio canal de comunicação. Clique aqui e confira o blog com mais informações o acampamento.

OCUPAÇÃO DANDARA MORADIA, TRABALHO E DIGNIDADE

A cada dia que passa, a cidade fica mais cara para os trabalhadores que nela vivem. Os salários não acompanham o valor dos aluguéis, o reajuste anual das passagens de ônibus, o aumento do preço dos alimentos, da conta de luz, água, remédios etc.

No campo, a situação também não é boa. O governo abandonou a promessa da reforma agrária. Por outro lado, a ação das grandes empresas que atuam no campo obriga cada vez mais famílias saírem de suas terras para vir morar nas periferias da cidade. Essas terras, antes usadas para produzir alimentos que também alimentavam a população urbana, agora serão usadas para produzir produtos de exportação.

Em tempos de grave crise econômica, essa situação piora muito, pois milhares de trabalhadores do campo e da cidade perdem seus empregos. Além disso, o capitalismo, para manter seus lucros, joga as conseqüências das crises que ele mesmo cria nos ombros dos trabalhadores. Assim, o que já era difícil, fica pior ainda.

Diante dessa situação, em resposta à crise econômica e à inércia do Governo Estadual em garantir políticas que atendam às demandas dos trabalhadores, as Brigadas Populares, o MST e o Fórum de Moradia do Barreiro, ocuparam, no dia 09 de abril de 2009, um latifúndio urbano de 40 hectares que jamais cumpriu sua função social.

Nesse novo acampamento, além de garantir moradia adequada, trabalho e dignidade para as famílias, queremos construir a necessária aliança entre a luta pela Reforma Urbana com a luta pela Reforma Agrária.

Que o nosso exemplo frutifique nas árvores do bem-virá!

Contamos com a solidariedade das pessoas, organizações, entidades e movimentos comprometidos com a luta social.