Câmara Municipal de Nova Andradina comemora os 25 anos do MST

Do Vale do Ivinhema Agora

A Câmara Municipal de Nova Andradina, no Mato Grosso do Sul, realizou,nesta sexta-feira (24/4), uma sessão solene em homenagem aos 25 anos de luta do MST.

O evento teve início com a exibição de um vídeo que, ao som da música “Pai Nosso dos Mártires”, mostrava cenas da pobreza mundial e de lutas do movimento. Logo depois, o grupo de teatro Utopia, que é do MST, fez uma rápida apresentação.

A composição da mesa teve como presidente, o vereador e autor da proposta da sessão, Vicente Lichoti (PT), que esteve acompanhado do vereador Márcio Costa (PMDB), José Glauco Lourenço (PMDB), Egídio Brunetto, coordenador estadual do MST, do vereador de Itaquiraí, Lúcio Meurer, e do secretário municipal, Edmundo Minoro Tiba, que representava o prefeito Gilberto Garcia (PMDB).

Também foram feitas diversas homenagens à integrantes do movimento e pessoas que, de alguma forma, ajuradaram e ajudam a construí-lo.

Entre os presentes, encontravam-se o vereador de Batayporã, José Liberato, e trabalhadores rurais de vários acampamentos, como o acampamento Florestan Fernandes, 17 de abril, Irmã Dorothy Stang, São Luiz, Emerson Rodrigues, São João, entre outros.

“Essa comemoração consolida os anos de luta desse movimento”, disse o trabalhador, Amilton Martini, de 61 anos, do acampamento Florestan Fernandes de Batayporã, que acompanhava o evento.

O vereador e presidente da casa, Adriano Palópoli, diferente de outros vereadores que não compareceram à sessão, chegou com alguns minutos de atraso devido um compromisso em Campo Grande. Depois de assistir um pouco da solenidade, Adriano discursou na tribuna e destacou às várias conquistas do movimento nestes 25 anos de história.

Uma das falas mais emocionadas da noite foi a do integrante do MST José Batista. “Estamos celebrando a vida. O alto índice de concentração fundiária deste país fez com que as pessoas perdessem sua cidadania, o MST fez com que essas pessoas pudessem voltar a ter cidadania e resgatar seus sonhos”.

Outro discurso que marcou a noite, foi do coordenador estadual do movimento, Egídio Brunetto Sequestrado e torturado a mando de latifundiários ele disse, “não somos uma organização que prega a violência. Quem foi violento contra nós foi o Estado e o latifúndio. Somos radicais sim! Radicais para acabar com a pobreza e com o analfabetismo. O MST tem hoje diversas escolas pelo país, mandamos nossos militantes para ajudar, temos cinco companheiros no Haiti, que diferente do exército brasileiro que só está lá para matar e estuprar, estamos lá ajudando aquele povo”.

Outro ponto ressaltado pelo coordenador, foi o de uma discriminação ao movimento patrocinada pela Secretaria de Educação do município de Nova Andradina, que segundo ele, em 2008, no desfile de 7 de setembro, mandou um carro alegórico para Casa Verde, que retratava o movimento como agente de poluição e destruição da natureza, “enquanto os burgueses apareciam nos carros e salvavam tudo. quem destrói e polui é a burguesia”, contou.

Segundo o ex-vereador de Nova Andradina, Tadao Mitsunaga (PT), a iniciativa do legislativo quebra o preconceito contra o MST. “Esta seja talvez a única comemoração no Estado”, disse.

Ele ainda parabenizou o mentor da sessão, Vicente Lichoti, pela coragem, pois “em um Estado onde o boi vale mais que o homem, é necessário muita coragem para defender um movimento como esse e propor uma sessão para comemorar seu aniversário, ainda mais aqui que estamos cercados por latifúndios”, ressaltou.

Vicente foi o último a discursar, ele agradeceu aos vereadores Márcio e Glauco pela coragem de irem à sessão, “já que eu sei que latifundiários e amigos de latifundiários ligaram para vocês pedindo que não viessem”, relatou.

Logo depois, Lichoti lembrou dos mais de 1.400 trabalhadores que já morreram na luta pela terra e, sobre a TV Globo, falou da criminalização do movimento promovida pela emissora. “Bandido é o Daniel Dantas, o MST ocupou àquela fazenda que é do povo. O povo tem que ir lá produzir. Daniel Dantas sim é o verdadeiro bandido que sustenta essa mídia de elite e direitista e concentra terras tornando-as improdutivas”.

Ele ainda destacou a importância da organização, “ela é o baluarte da justiça do Brasil, o trabalhador tem que ocupar terra improdutiva”.

Já no final da sessão, o vereador surpreendeu à todos quando pegou um violão e cantou a música “Ordem e Progresso” de Zé Pinto e disse, “essa ordem que a burguesia quer pregar é a da fome”. Fortemente, todos cantaram com ele; “a ordem é ninguém passar fome, progresso é o povo feliz, a Reforma Agrária é a volta do agricultor à raiz”. Seguido por palmas da platéia.

Ao Vale do Ivinhema Agora, diferente do lema positivista de Augusto Comte, que prega a ordem do povo e o progresso da burguesia, Lichoti reafirmou, “eu quero a ordem de ninguém passar fome e o progresso com todo mundo feliz”, finalizou.