Campesino

Por Júnior Longo* Ter as mãos calejadas do cabo das ferramentas, Sentir o sol escaldante e o aço das tormentas, Regar com meu próprio sangue a saúde das lavouras, garantir com meu suor, grandes safras duradouras, Obter da terra virgem total fertilidade, meu calor, minha coragem, tragando a tempestade, assim é que me coloco, sou poeta, sou posseiro, neste mundo desafeto, deste solo brasileiro. Guerreando o granizo e o fogo das sanções, enfrento na minha enxada a ganância dos patrões. Ergo alto minha viola, a trombeta da vitória, executo minha toada,

Por Júnior Longo*

Ter as mãos calejadas
do cabo das ferramentas,
Sentir o sol escaldante
e o aço das tormentas,

Regar com meu próprio sangue
a saúde das lavouras,
garantir com meu suor,
grandes safras duradouras,

Obter da terra virgem
total fertilidade,
meu calor, minha coragem,
tragando a tempestade,

assim é que me coloco,
sou poeta, sou posseiro,
neste mundo desafeto,
deste solo brasileiro.

Guerreando o granizo
e o fogo das sanções,
enfrento na minha enxada
a ganância dos patrões.

Ergo alto minha viola,
a trombeta da vitória,
executo minha toada,
construindo nossa história.

E se preciso for,
empenho meu coração,
como quem faz amor,
enfrento a exploração.

Sou triste, mas tenho fé,
sou louco, mas muito forte,
temente da natureza,
mas cúmplice até da morte.

Em busca da nossa terra,
nos solos do meu País,
a minha viola berra,
vitória sobre os fuzis.

Meu pé descalço chuta
outros pés imperiais,
nos hinos da nossa luta,
habitam versos fatais,

E quem duvidar se atreva,
que entre nesta batalha,
Conosco a natureza,
e terra para quem nela trabalha.

Assim é que me atiro,
neste mundo conturbado,
Sou pobre, porém posseiro,
homem determinado.

disposto, pela justiça,
a morrer pelo cerrado,
pedaço do meu Araguaia,
não mais deixo ser grilado.

A terra só se contenta
em braços que dão amor,
aonde ela se integra
às metas do Criador.

*Poeta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – 1982