Da ocupação da fazenda Capim à CPI: represália ao MST

Por Núcleo de Estudos e Pesquisas Psicologia Social e Educação: contribuições do Marxismo (Neppem) - Unesp/ Bauru Há um mês famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ocuparam a fazenda Capim com o objetivo de denunciar a utilização ilegal das terras, propriedade da união, pela multinacional exportadora de suco Cutrale. Desde então, os ataques ao movimento e a tentativa de criminalizá-lo vem crescendo.

Por Núcleo de Estudos e Pesquisas Psicologia Social e Educação: contribuições do Marxismo (Neppem) – Unesp/ Bauru

Há um mês famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ocuparam a fazenda Capim com o objetivo de denunciar a utilização ilegal das terras, propriedade da união, pela multinacional exportadora de suco Cutrale. Desde então, os ataques ao movimento e a tentativa de criminalizá-lo vem crescendo.

O MST não fez nada além do que costuma fazer seus militantes na luta pela democratização da terra: ocuparam a fazenda para denunciar a grilagem feita pela empresa sucocítrica. Esse é o fato: enquanto milhares de sem terra estão acampados embaixo de lonas, a multinacional se apropria de terras, que deveriam ser destinadas à reforma agrária e a produção de alimentos.

A fazenda tem 2,7 mil hectares e os Sem Terra abriram dois hectares do laranjal para começar a produzir alimentos, mas, setores conservadores, apoiando-se na cobertura sensacionalista e distorcida da mídia, tiraram do foco o debate sobre a grilagem das terras públicas, realizada pela gigante exportadora de suco e criaram uma peça de ficção.

O uso das imagens da fazenda Capim não passa de uma muleta para tais setores defenderem a concentração de terras e atacarem a possibilidade de avanços na reforma agrária. A senadora Kátia Abreu e deputado Ronaldo Caiado não tergiversaram: para eles a reforma agrária é uma bandeira antiga incapaz de responder as necessidades da agricultura brasileira.

O verdadeiro debate que os defensores do agronegócio ocultam: se o agronegócio é tão eficiente e moderno, porque seus representantes temem a atualização do índice de produtividade da terra, que data da década de 70, quando uma série de avanços científicos e recursos tecnológicos inexistiam?

A verdade é que enquanto 46% das terras deste país estão nas mãos de 1% dos proprietários, a agricultura familiar, de assentados e pequenos agricultores, produz a maior parte dos alimentos consumidos no Brasil e, além disso, é a maior geradora de emprego na agricultura. O Censo Agropecuário de 2006, ao contrário das reportagens da grande imprensa, revelou que a agricultura familiar responde por 38% do valor da produção e emprega 75% da mão de obra no campo, ocupando apenas um quarto da área cultivada.

Caso o índice de produtividade fosse atualizado, a maior parte desses 46% de grandes propriedades tornar-se-ia improdutiva. Esse é o motivo do ódio destilado contra o MST nas últimas semanas. Com a atualização do índice de produtividade o rei ficaria nu, e o discurso dos latifundiários de que são os “produtores”, seria desmascarado.

Bandeira histórica do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, a reivindicação da atualização do índice de produtividade tem o mérito de separar o joio do trigo: os defensores do latifúndio improdutivo contra os que defendem uma agricultura que gere empregos, renda e forneça alimentos a preços acessíveis para a população. Os que se juntam para atacar o MST são os mesmos que querem reformar o código florestal e ampliar a destruição dos ecossistemas brasileiros, são os que permitiram que milhões de reais dos cofres públicos fossem transferidos para grandes proprietários rurais através de inúmeros perdões de dívidas agrícolas, são os que têm em suas hostes os responsáveis pelos inúmeros assassinatos no campo e que estão sem punição, são os mesmos que sustentaram e ainda defendem a privatização dos serviços públicos.

Decididamente eles são inimigos do MST, e seria estranho se não fossem, pois o movimento denuncia e combate diariamente as práticas espúrias desses senhores.

O que está no centro dos acontecimentos da recente instalação da CPI é uma represália à pressão que o MST fez e continua fazendo em defesa da revisão dos índices de produtividade da terra. Fica, então, evidente que a CPI criada para investigar o MST, é na verdade, mais uma tentativa de intimidar, criminalizar e calar a luta pela democratização da terra, atacando um dos seus pilares, que é a organização dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, forjado em seus 25 anos de luta pela democratização da terra.

Diante de tudo isso, nós, do Núcleo de Estudos e Pesquisas Psicologia Social e Educação: contribuições do Marxismo (NEPPEM), apoiamos a luta do MST pela democratização da terra!