Camponeses da América Latina se solidarizam com MST

Mais de 50 entidades e movimentos sociais da América Latina divulgaram, na última semana, uma carta de apoio e solidaridade ao MST e contra a criminalização das organizações e movimentos políticos e sociais. "Os irmãos e irmãs do MST são um referente histórico na nossa América e no mundo, que resistem e se fortalecem na luta do povo pela Reforma Agrária, bandeira comum para a recuperação do que ao povo pertence - o território para produzir e para viver", afirmam os movimentos signatários. Leia abaixo o documento.

Mais de 50 entidades e movimentos sociais da América Latina divulgaram, na última semana, uma carta de apoio e solidaridade ao MST e contra a criminalização das organizações e movimentos políticos e sociais.

“Os irmãos e irmãs do MST são um referente histórico na nossa América e no mundo, que resistem e se fortalecem na luta do povo pela Reforma Agrária, bandeira comum para a recuperação do que ao povo pertence – o território para produzir e para viver”, afirmam os movimentos signatários.

Leia abaixo o documento.

Carta de Apoio e Solidaridade ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Brasil (MST), e contra a Criminalização das Organizações e Movimentos Políticos e Sociais

Novembro de 2009

Historicamente, os povos se insurgem na história para transformar tudo aquilo que os oprime, nessa luta incessante e aparentemente interminável contra o sistema dominante, que pretende acabar com a vida no planeta.

Hoje, o imperialismo adota novas e diversas formas de seguir se reproduzindo descaradamente e fortalecendo seu modo de dominação e exploração, mediante um novo padrão de acumulação que se faz mais selvagem e visível na expansão do capital transacional financeiro, associado ao complexo industrial-militar, ao agronegócio e à mineração; concentrando a riqueza em mãos de poucos, de uma burguesia transnacional, gerando fome, opressão e desespero.

Neste sentido, o desenvolvimento irracional das forças produtivas está levando ao limite a capacidade de resistência do planeta. É por isso que têm um peso específico na correlação de forças na região as grandes assimetrias e antagonismos existentes entre as pretensões das grandes potências e seu projeto de dominação, que se confrontam permanentemente e de maneira cada vez mais aguda com o projeto emancipatório que os povos de nossa América e a África estamos construindo.

Combinado a isto, recentemente vêm também se desenvolvendo diferentes (mas articulados) processos ou investidas do império na América Latina, como a militarização de nosso Continente (ativação da Quarta Frota, Instalação das Bases Militares na Colômbia e Panamá mediante acordos militares), a ocupação no Haiti, a repressão aos povos originários andinos do Peru, o golpe em Honduras, o massacre sistemático e seletivo de nossos dirigentes populares, entre outras coisas.

Isto é, atualmente nosso Continente é o epicentro de disputas interimperialistas pelo controle do território e de tudo que lá se encontra – uma imensa riqueza em recursos naturais – representando também, para o modo de produção capitalista, força de trabalho barata e abundante (fruto do desemprego estrutural); que nesta atual crise aponta a converter-se no ponto de consolidação e de partida de um novo esquema de dominação imperialista que garantirá a reprodução do sistema.

Ninguém sabe por onde sairá a crise, mas sabemos que não são casuais as medidas de criminalização da luta social, porque são exatamente as organizações, os movimentos políticos e sociais que estão se levantando contra a exclusão gerada pelo sistema, tentando a democratização também da economia, garantindo que se expresse a soberania popular através do direito do acesso a terra para viver e trabalhar, direito a um meio ambiente saudável e a coexistência em harmonia com a natureza, direito à saúde, educação e trabalho digno – incluindo sempre a autodeterminação de todos os povos e sua soberania.

Sabemos que as crises também geram condições favoráveis para o levantamento dos povos oprimidos. Elas propiciam a agudização cada vez mais intensa das contradições e antagonismos de classe, que podem resultar no reascenso de massas de que o movimento revolucionário mundial precisa. É por isto que os dominantes estão (através dos Estados) implementando todos os mecanismos para debilitar e desarticular o conjunto das classes oprimidas do campo e da cidade.

Achamos que hoje, mais que nunca, se faz suprema a necessidade de fortalecer os espaços e os processos estratégicos de unidade e articulação continental. É vital fortalecer, desenvolver e aprofundar a luta da classe oprimida para gerar as mudanças transcendentais que o mundo, a humanidade, está pedindo aos gritos. Falamos da construção do bloco contra-hegemônico que se faz imprescindível, fundamental para sustentar o avanço dos processos que têm como perspectiva o socialismo.

Assim é que justificamos o objetivo desta carta-declaração, como uma medida necessária para fortalecer as articulações construídas e em construção entre nossos movimentos, como expressão de nosso internacionalismo, sustentado no acionar constante das organizações que propõem a emancipação do povo pobre trabalhador, da sociedade oprimida e alienada.

Queremos manifestar nossa maior solidariedade com a luta que os companheiros e companheiras do MST e da Via Campesina estão travando, pois trata-se de uma batalha contra os ataques da burguesia brasileira e seus meios de comunicação, que tentam criminalizá-los, deslegitimando sua justa luta, escondendo o que realmente está por trás do conflito da ocupação de terras – como a grilagem (falsificação de documentos para apoderar-se de terras de propriedade pública e legalizar sua posse) que as grandes empresas transnacionais do agronegócio empregam como estratégia para desenvolver monocultura de exportação, na pretensão de aumentar sua acumulação de capital. Por outro lado, a plataforma midiática tenta convencer a opinião pública de que é mais importante a produção de monoculturas e a defesa da propriedade privada do que a luta que os companheiros militantes do MST desenvolve para garantir a alimentação do povo pobre, escondendo essa realidade palpável de fome e miséria.

Os irmãos e irmãs do MST são um referente histórico na nossa América e no mundo, que resistem e se fortalecem na luta do povo pela Reforma Agrária, bandeira comum para a recuperação do que ao povo pertence – o território para produzir e para viver. Não é só uma reivindicação, a produção de alimentos é uma necessidade e deve ser direito humano fundamental, e não converter-se em um mecanismo para a reprodução do capital mediante a concentração da terra e da monocultura, o que implica um impacto negativo no equilíbrio da vida no planeta.

Repudiamos e rejeitamos categoricamente toda a estratégia orquestrada, bem planejada e articulada, pela burguesia internacional em aliança com as classes dominantes locais nacionais subordinadas ao grande capital, que empregam toda sua plataforma midiática de desinformação para semear na consciência do povo a falsa idéia de que quem faz a luta é criminoso, tentando nos isolar politicamente para nos etiquetar de terroristas. Isso implicaria a criação das condições para nosso extermínio, nossa eliminação como organizações revolucionárias.

Por todo o exposto, é imperativo que os povos nos unamos, hoje mais que nunca. Pois é assim, na unidade, que podemos definitivamente derrotar o imperialismo e todas suas formas de dominação.

Por último, nós, movimentos sociais de nossa América, África e Caribe, queremos levantar nossa mais viva voz, exigindo:

BASTA DA CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS E ORGANIZAÇÕES POLÍTICAS E SOCIAIS DE TODO O CONTINENTE!!

FIM DA IMPLEMENTAÇÃO DAS BASES MILITARES NA COLÔMBIA E PANAMÁ!!!

NÃO AO PARAMILITARISMO!!!

NÃO À INVASÃO IMPERIAL CONTRA POVO DO HAITI, DA PALESTINA, DO AFEGANISTÃO E DO IRAQUE!!

ABAIXO A DITADURA EM HONDURAS!

LIBERDADE A TODOS E TODAS OS PRESOS(AS) POLÍTICOS LUTADORES E EXTRADIÇÃO DIGNA A SEU PAÍS DE ORIGEM AOS PROCESSADOS NO ESTRANGEIRO!!

REFORMA AGRÁRIA INTEGRAL JÁ!!

UNIDADE CONTINENTAL DE TODAS AS LUTAS E TODOS OS POVOS !!!

Assinam este documento:

Centro Memorial Martin Luter King “CMMLK” – (Cuba)
Colectivo Andamios – Coordinadora Continental Bolivariana Capítulo Chile (Chile)
União dos Camponeses de Marracuene “UCAM” – (Moçambique)
Asociación de Trabajadores del Campo “ATC” – (Nicaragua)
Movimiento por el Rescate Sandinista – (Nicaragua)
Confederación Nacional de Comunidades del Perú Afectadas por la Minería “CONACAMI” – (Perú)
Federación Agraria Revolucionária Tupac Amaru del Cusco, CNA “FARTAC” – (Perú)
Partido Pátria Libre – (Perú)
Confederación Regional de Comunidades Afectadas por la Mineria “CORECAMI” – (Perú)
Mouvman Peysan Papay “MPP” – (Haití)
Movimiento Campesino Nacional Kongresso Papay “MPNKP” – (Haiti)
Plateforme Haitienne de Plaidoyer Pour un Developpment Alternatif “PAPDA” – (Haiti)
Frente Nacional por la Defensa de los Derechos Económicos y Sociales “FRENADESO” – (Panamá)
Comité de Unidad Campesina “CUC” – (Guatemala)
Coordinadora Nacional de Organizaciones Campesinas “CNOC” – (Guatemala).
Confederación Caribeña y Latinoamericana de Estudiantes de Agronomía – Federación de Estudiantes de Agronomía de Guatemala “CONCLAEA – FEAG” – (Guatemala)
Movimiento de los Sin Tierra “MST” – (Bolivia)
Asamblea Feminista – (Bolivia)
Patria Insurgente Sol para Bolivia – (Bolivia)
Biblioteca Popular Pablito González – (Argentina)
Pañuelos en Rebeldía – (Argentina)
Frente Popular Darío Santillán – (Argentina)
Sindicato Nacional de Trabajadores de la Educación “SNTE” – (México)
Movimiento de Liberación Nacional “MLN” – (México)
Coordinadora Nacional Plan de Ayala “CNPA” – (Mèxico)
Central Campesina Cardenista “CCC” – (México)
Central Independienete de Obreros Agricolas y Campesinos “CIOAC” – (México)
Coalición de Organizaciones Democráticas, Urbanas y Campesinas “CODUC” – (México)
Partido Popular Tekojoja – (Paraguay)
Mesa Coordinadora Nacional de Organizaciones Campesinas – Unión de Campesinos del Norte “MCNOC” (Paraguay)
Organización de Lucha por la Tierra “OLT” – (Paraguay)
Coordinadora Nacional de Mujeres Rurales e Indigenas “CONAMURI” – (Paraguay)
Movimiento Campesino Paraguayo “MCP” – (Paraguay)
Organización Campesina de Honduras “OCH” – (Honduras)
Asociación Nacional de Trabajadores Agropecuarios “ANTA” – (El Salvador)
Movimento dos Atingidos por Barragens “MAB” – (Brasil)
Movimento dos Conselhos Populares “MCP” – (Brasil)
Movimento dos Pequenos Agricultores “MPA” – (Brasil)
Movimento dos Trabalhadores Desempregados “MTD” – (Brasil)
Consulta Popular – (Brasil)
Federación Nacional de Organizaciones Campesinas indígenas y Negras “FENOCIN” – (Ecuador)
Coordinadora Nacional Agraria “CNA” – (Colombia)
Frente Nacional Campesino Ezequiel Zamora “FNCEZ” – (Venezuela)
ViVeTv – (Venezuela)
Comités de Tierra Urbana Movimiento de Pobladores “CTU” – (Venezuela)
Comité para la Internacionalización de las Misiones Sociales “CIMS” – (Venezuela)
Partido Socialista Unido de Venezuela “PSUV” – (Venezuela)
Universidad de la Tierra en Oaxaca
Bibaani A.C.
Voces Oaxaqueñas Construyendo Autonomia y Libertad, ( VOCAL )
Casa Autonoma Solidaria Oaxaqueña de Trabajo Autogestivo, ( CASOTA )
Asamblea en defensa de la tierra y el territorio del istmo de tehuantepec
Asamblea Popular de los Pueblos de Oaxaca
Frente Civico Teotiteco
Sangre Chatina
Ayuntamiento Popular Autonomo de San Blas Atempa