Filme mostra saga de “Mulheres, mães e viúvas da terra”

Do Vermelho Geraldina era a matriarca da família Canuto. Faleceu em outubro do ano passado. Antes da finalização do documentário “Mulheres, mães e viúvas da terra”. Além de Geraldina, Maria Joel e Marina Silva protagonizam o registro da luta das mulheres que perderam os seus companheiros no sul e sudeste do Pará, por conta da militância pela Reforma Agrária.Todos foram executados.

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Geraldina era a matriarca da família Canuto. Faleceu em outubro do ano passado. Antes da finalização do documentário “Mulheres, mães e viúvas da terra”. Além de Geraldina, Maria Joel e Marina Silva protagonizam o registro da luta das mulheres que perderam os seus companheiros no sul e sudeste do Pará, por conta da militância pela Reforma Agrária.Todos foram executados.

O documentário, lançado nesta terça-feira (19/1), conta a história das viúvas de Dezinho e Zé Pretinho (líderes camponeses assassinados no massacre da fazenda Ubá), que assumiram o lugar dos maridos na luta sindical e na luta pela terra.

“Todo esse processo foi muito emocionante por conta dos relatos das mulheres, sempre muito permeados por sentimentos de tristeza, indignação e perseverança, acompanhados de um olhar que, por vezes, se lança no vazio perdido em lembranças e mágoas”, diz Evandro Medeiros, professor da Universidade Federal do Pará (UFPA).

De acordo com Evandro Medeiros, a produção de vídeos-documentários funciona como um recurso educativo e de sensibilização e mobilização social numa região de graves conflitos agrários. “A produção de vídeos-documentários é uma prática educativa desenvolvida por meio de uma linguagem alternativa (vídeo) que pode também ser usada na formação de professores”, argumenta Evandro.

O documentário é o terceiro de uma série de vídeos produzidos na própria região sobre histórias da luta pela terra, a qual objetiva registrar a história a partir do relato dos camponeses e, principalmente, das vítimas dos conflitos agrários na região, servindo como um recurso pedagógico para ser utilizado em escolas e em atividades dos movimentos populares que trabalham com formação da cidadania.

Década sangrenta

Boa parte dos casos contados no documentário ocorreu na década de 1980. A década é considerada a mais sangrenta no Pará. Eram dias de existência da União Democrática Ruralista (UDR), o braço da intolerância dos ruralistas animado pelo deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO).

Geraldina era viúva de João. Executado em 1985. Na década de 1990, D. Geraldina perdeu os filhos José e Paulo, no município de Rio Maria. Maria Joel é viúva de José Dutra da Costa (Dezinho), dirigente sindical assassinado em 2000 no município de Rondon do Pará. Marina Silva é esposa de Zé Pretinho, executado na Chacina Ubá, ocorrida em São João do Araguaia, em 1985.

Além da perda brutal dos maridos, as protagonistas do documentário possuem em comum a luta pela justiça. E a necessidade de assumirem o lugar dos maridos executados na direção sindical. Sendo elas, agora as ameaçadas de morte. Como é o caso de Maria Joel.

Os casos possuem em comum a impunidade. A sina da maioria das execuções de dirigentes sindicais e seus apoiadores. Geraldina ao lado da filha, Luzia, e outros pares criaram o Comitê Rio Maria, um emblema na região contra a impunidade.