“Precisamos impedir a especulação excessiva”, diz especialista em políticas para alimentação

Do Valor Econômico Alimentar uma população global em crescimento acelerado em vista da mudança climática e das estagnadas verbas para ajuda alimentar e pesquisa agrícola exigirá uma reformulação básica da agricultura, dizem especialistas. Ao contrário da "Revolução Verde" que aumentou dramaticamente a produção agrícola na América Latina e Ásia a partir dos anos 1950, porém, uma nova reestruturação precisará se concentrar tanto em novas variedades de sementes como em governança adequada, capacitação de mulheres e em colocar limites à especulação com commodities, acrescentaram.

Do Valor Econômico

Alimentar uma população global em crescimento acelerado em vista da mudança climática e das estagnadas verbas para ajuda alimentar e pesquisa agrícola exigirá uma reformulação básica da agricultura, dizem especialistas.

Ao contrário da “Revolução Verde” que aumentou dramaticamente a produção agrícola na América Latina e Ásia a partir dos anos 1950, porém, uma nova reestruturação precisará se concentrar tanto em novas variedades de sementes como em governança adequada, capacitação de mulheres e em colocar limites à especulação com commodities, acrescentaram.

“Não podemos abordar os riscos da segurança alimentar mundial unicamente através de uma ciência e de uma agenda tecnológica”, disse Joachim von Braun, ex-diretor-geral do Instituto Internacional de Pesquisa de Políticas Públicas para Alimentação, numa conferência realizada domingo.

“Precisamos conseguir as regulamentações de mercado apropriadas para impedir a especulação excessiva”, acrescentou, na conferência, realizada no sul da França para discutir um caminho para reformar a pesquisa agrícola a fim de atender metas de desenvolvimento. A especulação nos mercados de alimentos contribui para fomentar oscilações de preços que podem minar a capacidade de planejamento dos agricultores, muitas vezes induzindo-os à superprodução ou à subprodução.

A falta de apoio político e de recursos para pesquisa agrícola também está entre os maiores problemas que limitam os esforços para aumentar a produção e para alimentar mais de um bilhão de pessoas famintas no mundo, disse Jacques Diouf, diretor-geral da Agência das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

“Temos os programas, temos os projetos, temos o conhecimento… Temos tudo que precisamos, menos vontade política”, disse ele, acrescentando que surgiram indícios de mudanças. “Percebemos que o problema da segurança alimentar não é unicamente um problema técnico, econômico e ético. É um problema de paz e segurança no mundo”.

Até 2050, a população mundial deverá aumentar, de 6,3 bilhões hoje para mais de 9 bilhões, portanto a produção agrícola precisará crescer em 70% para alimentar essas pessoas, segundo o Fundo Internacional para Desenvolvimento da Agricultura.

Mas o mundo enfrentará desafios dramáticos para alcançar esse objetivo, alertaram os especialistas. O investimento e a pesquisa agrícola estagnaram ou caíram por todo o mundo por décadas, e o crescimento em lavouras cruciais como o arroz se estabilizou, dizem, acrescentando que o elevado endividamento nacional, em parte como resultado da crise financeira global, diminuiu a probabilidade de aumentos em ajuda de doadores para pesquisa.

A mudança climática também está provocando a piora das secas, enchentes e tempestades. Essas pressões poderão reduzir drasticamente a produção agrícola nas regiões do mundo mais flageladas pela fome, na África e no Sul da Ásia, e poderão agravar problemas existentes como o uso excessivo de aquíferos, desertificação e erosão. “A mudança climática agravará uma situação já em deterioração”, disse o porta-voz do IFAD, Kevin Cleaver.

Inverter os problemas, ele e outros dizem, exigirá uma série de mudanças, como refrear subsídios agrícolas do mundo rico, assegurar que os pequenos agricultores tenham direitos às suas terras e identificar novas fontes de recursos para pesquisa agrícola.