Jornada de Lutas mobiliza solidariedade

Eduardo Sales de Lima Do Brasil de Fato O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Via Campesina aproveitarão a Jornada de Lutas, neste mês, para mobilizar os trabalhadores rurais assentados em prol de uma solidariedade internacional não apenas material, mas símbolo de uma integração entre os povos.

Eduardo Sales de Lima
Do Brasil de Fato

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Via Campesina aproveitarão a Jornada de Lutas, neste mês, para mobilizar os trabalhadores rurais assentados em prol de uma solidariedade internacional não apenas material, mas símbolo de uma integração entre os povos.

De acordo com Itelvina Masioli, do setor de Relações Internacionais do MST, cada estado debaterá as datas de entregas de doações a países atingidos por grandes catástrofes naturais, como o Haiti e o Chile. Uma das idéias é que as famílias também escrevam cartas endereçadas às pessoas atingidas.

Brasil de Fato – Quais os objetivos dessa campanha de solidariedade internacional?

Itelvina Masioli – Queremos aproveitar o 17 de abril, dia internacional pela luta pela reforma agrária, para mobilizar os assentados para a campanha internacional pela solidariedade aos povos. O importante para nós, agora, por meio dessa campanha é fortalecer toda essa mística que já existe dentro do movimento. A idéia é que as famílias assentadas possam doar ferramentas, sementes. E tão importante quanto isso, é escrever uma carta, que poderá ser lida por uma família camponesa haitiana, ou do Chile, ou de qualquer outra parte do mundo.

Queremos mostrar, principalmente, que o tema da solidariedade faz parte de nossos princípios. Nossa intenção não é só doar sementes, mas conhecer a história da luta e da resistência tanto do povo haitiano como dos povos do mundo, sua cultura.

Qual é o peso da solidariedade internacional na construção do MST e na sua concepção de solidariedade e internacionalismo?

Foi fundamental todo o auxílio internacional ao longo desses 26 anos para que o movimento enfrentasse todo um processo histórico de luta contra o latifúndio. Graças a essa solidariedade o mundo pôde observar que o Brasil não é apenas o país do Carnaval e do futebol, mas de tremendas injustiças sociais. Além disso, o mundo pôde observar que aqui existe um povo que luta, uma organização popular na luta pela terra, pela educação.

De que forma essa campanha pode dialogar com a sociedade brasileira, sobretudo com os não politizados, e construir essa concepção de solidariedade internacional?

Sabemos que solidariedade não é oferecer o que está sobrando, mas aquilo que nos falta. Queremos fortalecer essa prática pedagógica. O que estamos fazendo agora é potencializar nossas ações para que sejam mais freqüentes, mais intensas, em nível nacional e internacional.

Então as doações materiais podem reverberar numa conscientização política?

Temos trabalhado a concepção de solidariedade de uma forma mais ampla, segundo uma dimensão de classe, fortalecendo o intercâmbio entre os povos, a organização social das pessoas. Vai na direção da luta pela reforma agrária, na construção da soberania alimentar.

Em momentos especiais, como no caso das doações ao Haiti, as sementes têm uma força enorme. Estamos nos preparando para receber jovens haitianos para que aprendam com cursos técnicos, e que assim, futuramente, também possam contribuir no processo de reconstrução do país.

A partir da compreensão da presença do império no mundo, e que, no caso do Haiti, existe uma ocupação militar que dura mais de seis anos, percebemos como é importante a integração dos povos e que podemos ter diferentes idiomas, mas o que nos identifica são as lutas comuns contra inimigos comuns.