Desequilíbrios ambientais provocarão 1 bilhão de migrantes

Por Angélica Enciso L. Do La Jornada/México Nos próximos 20 anos, um bilhão de pessoas serão migrantes ambientais. É a população que estará obrigada a deixar sua terra pela mudança climática, as privatizações dos recursos naturais, a construção de megaprojetos, os despejos, a criminalização e a guerra, adverte Giuseppe de Marzo.


Por Angélica Enciso L.
Do La Jornada/México

Nos próximos 20 anos, um bilhão de pessoas serão migrantes ambientais. É a população que estará obrigada a deixar sua terra pela mudança climática, as privatizações dos recursos naturais, a construção de megaprojetos, os despejos, a criminalização e a guerra, adverte Giuseppe de Marzo.

Autor do livro “Buen vivir, para una democracia de la tierra” e porta-voz da associação italiana A Sud, afirma que atualmente o modelo capitalista gera um acréscimo que equivale ao dobro do PIB mundial e se constrói por meio de serviços ambientais gratuitos. Aí está seu ganho, e com isto perdem
seus direitos os trabalhadores e os habitantes das comunidades.

Ele explica que o atual modelo econômico não pode enfrentar a crise ecológica e por isso se deve criar o modelo baseado no Bem Viver. “Temos que aprofundar em que mudou a sociedade se queremos entender a crise estrutural dos governos”.

Bem Viver significa o que povos indígenas nos dizem: que o desenvolvimento deve vir da mão da sustentabilidade ambiental. Pode existir economia sem ecologia, não; ecologia sem economia, sim.

Em entrevista, diz que um dos elementos centrais do livro – com introdução de Adolfo Pérez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz em 1980 – é que “a única maneira de sair disto é colocar outro paradigma civilizatório; queremos tombar a verticalidade deste modelo, construir de maneira horizontal nexos sociais, econômicos, jurídicos, espirituais. Reconstruí-los sobre dois eixos que são a justiça ambiental e social. Isto permite enfrentar a crise sem retroceder nem resistir, mas aprofundar a democracia”.

Dessa circunstância, não se sai com uma só nação. A crise do México é como a da Itália; não é nacional, é global, tem a ver com a do trabalho, a exploração da terra. O ponto é que não há diferença nesta leitura entre norte e sul; a crise afeta ambos, por exemplo a água está privatizada e se pede aos trabalhadores que renunciem ao direito de greve.

A partir dos conflitos ambientais se desenvolvem práticas novas de fazer política; a novidade é que põem em comum tanto as comunidades do norte como do sul. A gente da Nigéria e de outros lugares como a Itália, lutam pelos bens comuns, contra um grande lixeiro, um trem de alta velocidade, em defesa das sementes. Todas são lutas que quando se desenvolvem levam práticas como autogoverno, democracia comunitária, participativa, resgate das práticas ancestrais.

São aspectos importantes que as comunidades de norte e sul utilizam para se defender do avanço da fronteira de expansão do modelo capitalista, que está em uma crise que se aprofunda.

“As negociações que se levam no contexto das Nações Unidas não resolverão o problema? Se fala da economia verde, mas se só constroem carros que não usam combustíveis fósseis não se resolve o problema, porque para desenvolvê-los já se usaram recursos naturais como água e outras fontes de
energia. Apelamos à reconversão industrial, algo que não tenha um impacto tão brutal como o da atual economia, na qual muitas coisas se fazem só para seguir consumindo.”

“Temos que reduzir em 10 anos, 50% das emissões; há responsabilidade compartilhada, mas diferente entre as nações. A mudança climática é a maior ameaça mundial, afeta ao ano, 600 milhões de pessoas e mata 300 mil, segundo a ONU. É algo que já está. A proposta que se há em Cancún não resolve nada, como em Copenhague; o capitalismo não se pode auto-reformar. Especialistas indicam que em dois anos de crise financeira gastamos o que equivale a 600 anos da humanidade de bem-estar saúde, água, comida e educação, isto dá a Idéia do problema. Por que não se investe em solucionar o problema? Porque este modelo fisiologicamente necessita desalojar as pessoas.”, afirma.

Ele acrescenta que o Bem Viver “é reconstruir nexos biológicos, econômicos, jurídicos, com todos os que nos rodeiam, um modelo de desenvolvimento acorde com a natureza. As crises pelo modelo vigente indicam que deve haver uma mudança que ponha no centro a natureza, porque a problemática ecológica demonstra que não podemos continuar assim. Não é uma utopia. Utópico é pensar que com o
desenvolvimento econômico atual se solucionará o dano ambiental”.