MST produz alimentos na antiga fazenda de Dantas

Por João Márcio Da Página do MST No dia 24 de outubro, 390 famílias do acampamento Dalcídio Jurandir completam dois anos de ocupação na fazenda Maria Bonita, do grupo Santa Bárbara, ligado ao banqueiro Daniel Dantas, em Eldorado dos Carajás (PA). O cenário, antes de pastagem e desmatamento, vai dando lugar à diversidade de plantação. Hoje, os acampados plantam mandioca, batata, mamão, maracujá, arroz, feijão e todos os tipos de hortaliça, além da produção artesanal de farinha.


Por João Márcio
Da Página do MST

No dia 24 de outubro, 390 famílias do acampamento Dalcídio Jurandir completam dois anos de ocupação na fazenda Maria Bonita, do grupo Santa Bárbara, ligado ao banqueiro Daniel Dantas, em Eldorado dos Carajás (PA). O cenário, antes de pastagem e desmatamento, vai dando lugar à diversidade de plantação. Hoje, os acampados plantam mandioca, batata, mamão, maracujá, arroz, feijão e todos os tipos de hortaliça, além da produção artesanal de farinha.

A fazenda Maria Bonita, segundo o técnico de saúde Enivaldo Alves dos Santos, um dos coordenadores do acampamento, era, antes da ocupação, a área que mais tinha boi por hectares na região do Pará. “Chegamos aqui e tinha só pasto e boi. Agora, plantamos de tudo para comer e vender”, explica. Segundo o professor de agronomia da Universidade Federal do Pará (UFPA), Fernando Michelotti, o
acampamento e o futuro assentamento dessas famílias na região seria propício “para a recuperação de áreas devastadas para a criação de gado, até porque o fazendeiro desmata 4 mil hectares por ano, enquanto o pequeno agricultor, no mesmo período, desmata 3, 4 hectares”. Mas, para o grupo de Dantas, isso parece não ser relevante.

“Depois que tudo que plantamos começou a crescer, passou um avião jogando veneno em nossa plantação”, conta o acampado Francisco dos Santos. Chico não desanima e, empolgado, afirma: “mas é bonito quando ocupamos uma área e começamos a dar vida onde antes não tinha, produzindo”. Ele lembra que, antes das áreas virarem pastagem, elas eram tomadas por castanheiras típicas da região do Pará.

Para o acampado, grupos financeiros de origem internacional ávidos por matéria- prima também fomentam a destruição da floresta e o fim da agricultura familiar. “O capital internacional em busca desses insumos acaba contribuindo para o fortalecimento dessas grandes fazendas para monocultura e o fim do pequeno agricultor”, lamenta. Segundo o professor Michelotti, a criação do gado se dá realmente para a exportação da carne e do couro. E as fazendas em posse dos grupos financeiros são compradas, geralmente, de grileiros da região.

Descobrimento
Além de recuperarem uma área antes destruída e torná-la produtiva, outra preocupação dos acampados é a educação dos filhos. “Quando se ocupa, a primeira coisa que fazemos é organizar uma escola”, diz Chico.

Dentro da escola do acampamento, dividida em 7 salas com aulas em três períodos, 380 crianças aprendem não só o conteúdo escolar obrigatório das cartilhas distribuídas pelo Estado, mas refletem sobre o contexto onde vivem. Cartazes espalhados pelas salas de aula tratam do respeito à natureza e à vida humana, questionando também sobre o verdadeiro papel do solo e da vegetação. Assim, numa das aulas, a professora Leide Laura, ao falar sobre a escravização dos índios, deixa claro mais uma vez o sentido da educação dada aos Sem Terrinha. Ela explica que Pedro Álvares Cabral não descobriu o Brasil, como sustentam as cartilhas do governo, mas sim, como ainda ocorre na região, invadiu e explorou como pôde os recursos naturais e humanos brasileiros.