“Governo tucano nunca fez Reforma Agrária em Minas”

Por Joana Tavares Da Página do MST Enxugamento da máquina, corte de gastos de custeio e nas áreas sociais (educação, saúde, assistência social), orientação dos investimentos para obras faraônicas de grande repercussão. Assim é caracterizado por Wellington Morais, da direção do MST, o "choque de gestão" do governo Aécio Neves (PSDB), que agora fez seu sucessor para o governo do estado. Ele reforça ainda o controle da mídia e o suporte ao agronegócio, além da violência com que se trata as lutas sociais.


Por Joana Tavares
Da Página do MST

Enxugamento da máquina, corte de gastos de custeio e nas áreas sociais (educação, saúde, assistência social), orientação dos investimentos para obras faraônicas de grande repercussão.

Assim é caracterizado por Wellington Morais, da direção do MST, o “choque de gestão” do governo Aécio Neves (PSDB), que agora fez seu sucessor para o governo do estado.

Ele reforça ainda o controle da mídia e o suporte ao agronegócio, além da violência com que se trata as lutas sociais.

“Em Minas Gerais nunca se viu tanta polícia nas ruas como hoje em dia”, reforça, destacando ainda a triste lembrança do Massacre de Felisburgo, que completa seis anos no próximo mês.

Wellington aponta que o próximo governador, Antonio Anastasia, também do PSDB, deve aprofundar as políticas que ele ajudou a criar e implementar. Confira abaixo a entrevista.

Como você avalia as políticas do governo Aécio Neves (PSDB) para o campo à frente do governo do Estado de Minas Gerais?

As políticas públicas para o campo se resumiram a uma forte orientação de programas para os grandes negócios, privilegiando as culturas de commodities. Para sustentar esta lógica, o governo mineiro coloca seus órgãos como a Emater, Epamig, RuralMinas e a Secretaria de Agricultura totalmente a serviço dos grandes fazendeiros.

Inclusive tendo à frente da Secretaria da Agricultura um representante da Faemg (Federação dos Agricultores do Estado de Minas Gerais), a entidade de classe do latifúndio em Minas. Esse representante, Gilmar Viana, foi durante 15 anos, de 1990 a 2005, presidente da Faemg e vice-presidente da CNA, que é a Confederação Nacional de Agricultura.

Então por este parâmetro já da para ver a quem este governo quis atender do ponto de vista da agropecuária. Outra faceta no campo é a integração das culturas florestais e da siderurgia e metalúrgica, sob o pretexto da sustentabilidade.

O governo mineiro tem incentivado cada vez mais o plantio de eucalipto, que hoje está presente em todo o estado. Em alguns municípios já não se planta mais nada de comida, que chega do Ceasa a preços altos.

Inclusive muitas das terras usadas para este plantio são devolutas, que o governo faz concessão de uso, cobrando uma bagatela de R$ 0,50 por ano/hectare.

Os poucos programas que beneficiaram os pequenos podem ser contados nos dedos, como a titulação de posseiros, programa que é o ápice da Seara (Secretaria Especial para Assuntos de Reforma Agrária) e o programa de segurança alimentar. Reforma Agrária que é bom, nunca se fez e nunca foi tema de proposta de política por parte do governo tucano.

Como o governo tratou as políticas sociais?

As políticas sociais não saíram de meras questões paliativas, incentivadas e financiadas pelo governo federal e levando a placa do governo do Estado, tipo, “Luz para todos”, algumas obras do “Minha casa Minha vida”, que ainda ficaram à margem do percentual proposto pelo governo federal, sendo o mais baixo do país. Obras de infra-estrutura de estrada e rodagem foram feitas apenas para atender o escoamento dos produtos do agronegócio, que foi a grande investida do governo de Aécio.

Como os movimentos sociais foram tratados durante o governo?

Por tal política ínfima no social, o mecanismo mais eficiente que o governo dispôs para tratar com os movimentos sociais foi a repressão.

Exemplo disso é o massacre de Felisburgo, em que cinco Sem Terras foram assassinados pelo fazendeiro e jagunços. Outro exemplo é a repressão sofrida no encontro dos movimentos sociais que coincidiu com o encontro do BIRD em Belo Horizonte em 2007.

Podemos citar ainda as diversas formas que utilizam para reprimir as ocupações urbanas, como a Dandara, Caracol, entre outras e a constante repressão do chamado dia a dia, por falta de políticas publicas. Outro elemento é a total falta de diálogo com os movimentos sociais, colocando como mediador somente a Seara, nenhuma outra secretaria do Estado manteve diálogo com os movimentos.

O que significa o “choque de gestão” do Aécio?

O choque de gestão, é a cara de governos como o do Aécio e dos tucanos, é o coroamento das políticas neoliberais ao estilo mineiro.

Incluem o enxugamento da máquina, com corte de gastos de custeio e nas áreas sociais (educação, saúde, assistência social), de orientação dos investimentos para obras faraônicas de grande repercussão (como a “Linha verde” que liga o Centro de Belo Horizonte ao aeroporto internacional de Confins, a cidade administrativa), as parcerias público-privadas em todas as áreas (inclusive no sistema carcerário) e controle repressivo das periferias e da mídia. Em Minas Gerais nunca se viu tanta polícia nas ruas como hoje em dia.

A cada seis meses o governador faz entrega de viaturas novas à polícia, empossa novos soldados e gradua oficiais.

Em relação à mídia, a gestão do PSDB, através da Andrea Neves, submeteu todos os veículos mineiros à lei da mordaça, negando totalmente a democracia a liberdade de expressão, típico dos tucanos.

Além de tudo, paga com dinheiro público altos dividendos aos parceiros midiáticos para divulgação de suas políticas titânicas. Por estas terras não se fala mal de quem governa, seja Aécio ou Anastasia [Antonio Anastasia, novo governador eleito, do PSDB], sob pena de perder o emprego. Este é o choque de (indi)gestão do governo tucano.

O que representa seu campo político que agora concorre para o governo federal?

Anastasia é a continuidade das políticas que ele mesmo apoiou e criou nas gestões anteriores junto com Aécio, na elaboração e aplicação. Agora, diferentemente da anterior, terá a nova gestão os senadores a seu mando, Aécio Neves e Itamar Franco.

Novos ares, nova conjuntura, não se sabe como comportará o velho Itamar tão querido e lembrado pelas organizações sociais. Sabemos que Aécio aspira a cargos maiores do que o atual mandato no Senado, e que provavelmente tentará se colocar como candidato à Presidência da República daqui a quatro anos, à frente do PSDB..

O que a experiência de Minas Gerais pode deixar para os demais estados brasileiros?

Nós mineiros e principalmente os movimentos sociais mineiros, sabemos o que é estar à margem da discussão política por estes oito anos e tememos pelos outros quatro que virão.

A política tucana pode conduzir os movimentos sociais à criminalização, perseguição e marginalização. E todos nós sabemos o que poderia ocorrer se o PSDB retornasse ao governo federal. Seríamos atirados ao grande retrocesso político, ao qual Minas está fadada a mais quatro anos. Isso não nos impede de seguir em luta para conquistar nossos direitos.