“Hidroelétrica não é energia limpa”, alerta MAB

Por Vinicius Mansur De Cancún (Mèxico) Entre as diversas propostas apresentadas na COP 16 – conferência da ONU sobre mudanças climáticas - que visam a combater a crise ambiental incrementando grandes negócios, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) do Brasil atacou aquelas que defendem as hidroelétricas como energia limpa.


Por Vinicius Mansur
De Cancún (Mèxico)

Entre as diversas propostas apresentadas na COP 16 – conferência da ONU sobre mudanças climáticas – que visam a combater a crise ambiental incrementando grandes negócios, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) do Brasil atacou aquelas que defendem as hidroelétricas como energia limpa.

“O discurso das grandes empresas e dos governos que as representam é que, em comparação com a energia nuclear, as hidroelétricas representam uma energia limpa. Mas, uma represa construída no Brasil, em Barra Grande (RS), alagou seis mil hectares de araucária”, denunciou a representante do MAB, Tatiane Paulino, na manhã desta segunda-feira (6) em Cancún, durante o painel “Lutas que cruzam fronteiras: água, mineração, petróleo, migração, represas, urbanismo selvagem”, realizado no fórum promovido pela Via Campesina, paralelamente à COP 16.

De acordo com Paulino, o Brasil já tem mais de duas mil represas construídas que afetaram mais de um milhão de pessoas e ainda estão previstos, para os próximos 10 anos, investimentos de 113 bilhões de dólares para construir represas que alagarão cerca de 770 mil hectares de florestas nativas. “As cinco maiores bacias do país estão na Amazônia e todas já comprometidas com projetos do capital”, afirmou.

No espaço oficial da COP 16 em Cancún, o governo brasileiro exibiu grandes fotos das hidroelétricas do Rio Madeira e de Belo Monte como forma de propagandear as ações ambientais no país, apesar destes projetos terem desalojado 80 mil pessoas entre indígenas, quilombolas e ribeirinhos.

“A represa do rio Madeira afeta Bolívia e Peru, e estamos em lutas conjuntas com os irmãos desses países. Não podemos fazer lutas separadas. Não podemos esperar que as soluções venham de empresas e governos, estes estão a serviço das empresas. Esta é uma luta dos povos. Temos que construir um movimento internacional, deixando de ser um movimento numa pequena província”, concluiu Paulino.

Internacionalização do discurso

Outra representante do MAB em Cancún, Sonia Mara Maranho, destacou a tendência mundial das empresas em se apropriar da bandeira ambiental, criando falsas soluções para combater o aquecimento global, quando na verdade buscam legitimar suas atividades, obter subsídios e outras facilidades de governos ou expandir seus mercados. No caso das hidroelétricas, propagandeiam o alto potencial na redução de emissão de poluentes, porém omitem a destruição da natureza, a privatização do meio ambiente e a expulsão de populações inteiras.

“Querem criar o mercado internacional de carbono, por exemplo, para criar novos mercados e mercadorias. As empresas mais poluidoras são as protagonistas desse discurso e se apresentam como as salvadoras. Internacionalizam uma busca desesperada de lucro e mais valia, e os povos não são consultados”, disse.

Nesse sentido, Maranho destacou a importância do referendo mundial sobre mudanças climáticas que está sendo proposto pelo governo da Bolívia à COP 16.