Mais corporações no campo, mais pobreza e dependência dos agricultures


Por Joana Tavares
Da Página do MST

As 50 maiores empresas do agronegócio brasileiro tiveram uma receita de R$ 189 bilhões, maior que o PIB agrícola.

Por Joana Tavares
Da Página do MST

As 50 maiores empresas do agronegócio brasileiro tiveram uma receita de R$ 189 bilhões, maior que o PIB agrícola.

Em entrevista por correio eletrônico à Pàgina do MST, os professores-pesquisadores da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), Paulo Alentejano
Andre Campos Burigo, Alexandre Pessoa Dias,
“o controle cada vez maior das grandes corporações sobre a agricultura no Brasil, atualmente maior consumidor mundial de agrotóxico, gera empobrecimento dos agricultores e concentração da renda e riqueza“.

Abaixo, leia a íntegra da entrevista sobre a expansão do uso de agrotóxicos no Brasil e o controle da agricultura por grandes corporações.

Comparando os dados de áreas cultivadas, o volume da produção e o uso de agrotóxicos, é possível comprovar que o aumento do uso de venenos não significa aumento da produção?

Não há correlação direta entre o aumento do uso de agrotóxicos e a evolução da área plantada das principais culturas, mas o aumento do consumo de agrotóxicos foi muito superior à evolução da área plantada.

Qual o crescimento das culturas de milho, soja, cana e algodão nos últimos anos e sua relação com o aumento do uso dos agrotóxicos?

Como estas culturas são as que mais usam agrotóxicos, a ampliação das mesmas favorece a ampliação do consumo de agrotóxicos. Isto se agrava com a liberação de plantio de sementes transgênicas resistentes a agrotóxicos pela CTNBio, justamente para três dessas culturas: algodão, milho e soja.

É possível saber quanto de veneno se usou por hectare de área cultivada?

Em 2008 a relação foi de: feijão 2,9 litros por hectare; arroz – 4,31 litros por hectare; cana – 6,13 litros por hectare; milho – 6,71 litros por hectare; soja – 15,14 litros por hectare; algodão – 39,71 litros por hectare.

Uma matéria do Valor Econômico diz que o governo autorizou elevar em dez vezes o limite de resíduo no cultivo de milho. O resíduo será de glifosato, que responde por 42% do consumo de venenos. O que significa essa permissão de elevar o índice?

O governo está cedendo aos interesses das grandes corporações interessadas em vender este tipo de produto. Três empresas já possuem autorização para comercializar milho resistente ao glifosato: Monsanto, Syngenta e DuPont.

A aposta da Monsanto para o próximo período, segundo matéria do Valor, é o desenvolvimento da linha de biotecnologia. O que significa isso para a toxicidade dos produtos e seus possíveis efeitos sobre os alimentos e a saúde?

As empresas estão querendo impor cada vez mais os transgênicos e estes produtos em grande parte são vendidos junto com os agrotóxicos, como é o caso das sementes resistentes a glifosato. Tudo isso reforça não só a contaminação de alimentos, do ambiente e dos traballhadores, como a subordinação dos agricultores a estas grandes corporações.

As 50 maiores empresas do agronegócio brasileiro tiveram uma receita de R$ 189 bilhões, maior que o PIB agrícola  (que é calculado como em torno de R$ 180 bi). Como isso se dá e o que significa a presença de tantas e poderosas transnacionais no campo brasileiro?

O controle cada vez maior das grandes corporações sobre a agricultura no Brasil, atualmente maior consumidor mundial de agrotóxico, gera empobrecimento dos agricultores e concentração da renda e riqueza gerada no campo nas mãos de um pequeno grupo de grandes empresas transnacionais que controlam o mercado mundial de sementes e agroquímicos, contrariando, portanto, qualquer perspectiva de soberania alimentar.