Sindicato questiona censura a pesquisadores da Embrapa


Da Comunicação do Sinpaf

O presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (Sinpaf), Vicente Almeida, enviou carta ao ministro da Agricultura, Wagner Rossi, solicitando uma audiência para tratar da denúncia de cerceamento à livre manifestação científica dos pesquisadores da Embrapa.

Da Comunicação do Sinpaf

O presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (Sinpaf), Vicente Almeida, enviou carta ao ministro da Agricultura, Wagner Rossi, solicitando uma audiência para tratar da denúncia de cerceamento à livre manifestação científica dos pesquisadores da Embrapa.

A carta, enviada na segunda-feira, foi provocada pela denúncia de que dois pesquisadores haviam sido impedidos pela empresa de participar de um seminário sobre o Código Florestal Brasileiro na Câmara dos Deputados, na última terça-feira (21/2).

Segundo o jornal, os pesquisadores apresentariam uma das principais conclusões do relatório do grupo de trabalho formado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) para estudar a proposta de alteração do Código Florestal proposta pelo deputado Aldo Rebelo: a de que a ausência de insetos polinizadores, como abelhas, provoca queda de produtividade de 40% a 100% em oito culturas comerciais (algodão, café, soja, maracujá, caju, pêssego, melão e laranja). Como esses insetos se refugiam na vegetação nativa, existe um bom motivo econômico para o agricultor manter as matas.

A reportagem afirma que na segunda-feira 20 um dos pesquisadores, da Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna (SP), mandou um e-mail ao grupo afirmando ter recebido ordem superior para não falar na Câmara. Um terceiro cientista, da Embrapa Florestas, recebeu, segundo testemunha, ligação de sua chefia horas antes do seminário com a ordem para que não comparecesse.

Embora a presidência da empresa tenha negado o fato à reportagem da Folha de S. Paulo, cientistas de outros órgãos ouvidos pelo jornal queixaram-se de censura aos colegas da Embrapa. O Spalhanet tentou ouvir os pesquisadores, tanto da Embrapa quanto dos outros organismos, sobre o assunto, mas até o fechamento desta edição não obteve retorno. 

De qualquer forma, o episódio atesta o que o SINPAF já vem denunciado desde o ano passado, quando criticou o teor da Circular n° 58, de 18 de outubro de 2010, assinada pelo presidente da Embrapa, Pedro Arraes. O documento orienta os trabalhadores a obedecerem o disposto na Política de Comunicação (PCE) da empresa: pesquisadores e técnicos só podem falar com a imprensa quando “explicitamente delegados por seus chefes” e quando esses acharem conveniente.

De acordo com a assessoria de comunicação da SBPC, o relatório completo será divulgado oficialmente após o Carnaval. Um sumário do documento, no entanto, está disponibilizado no site da entidade.

O seminário, convocado pela Frente Parlamentar Ambientalista, contou com a participação de pesquisadores de órgãos como Universidade de São Paulo (USP), Unicamp, Inpe e Ministério da Ciência e Tecnologia.

Nenhum desses órgãos tem posição oficial sobre a proposta de reformulação do Código Florestal em tramitação na Câmara.

“A Embrapa, no entanto, argumentando não ter posição oficial sobre o assunto, impede que seus pesquisadores divulguem resultados de estudos que não corroboram a proposta defendida pela bancada ruralista”, afirma Vicente Almeida. 

Para o presidente do sindicato, que é pesquisador na Embrapa Hortaliças, é preciso que os trabalhadores denunciem essa prática perniciosa. “A sociedade tem direito a informação científica isenta de interesses políticos, econômicos ou quaisquer outros que não sejam compatíveis com esse direito. A Embrapa construiu uma sólida reputação ao longo de sua existência. Seus gestores não podem jogar fora essa história, colocando em risco a credibilidade da empresa para não desagradar o grupo reacionário que hoje tenta fazer prevalecer seus interesses em detrimento do interesse da coletividade”.