A gente quer estudar


 

Da Página do MST

 

A realidade em que vivemos no campo brasileiro nos faz refletir sobre como podemos superar tantas dificuldades para continuar vivendo em um lugar em que milhares de crianças, jovens e adultos têm seus direitos fundamentais negados pelo Estado. Sem terra, trabalho, renda, uma boa casa, posto de saúde e educação básica...


 

Da Página do MST

 

A realidade em que vivemos no campo brasileiro nos faz refletir sobre como podemos superar tantas dificuldades para continuar vivendo em um lugar em que milhares de crianças, jovens e adultos têm seus direitos fundamentais negados pelo Estado. Sem terra, trabalho, renda, uma boa casa, posto de saúde e educação básica…

Não é desistindo de viver no campo que se resolve essas questões, uma vez que os centros urbanos não são uma solução para os problemas. Muito pelo contrário: o crescimento da população das cidades tem como consequência falta de emprego, de educação com qualidade, saúde, moradia e alimentação. Por isso, vemos na TV tantos casos de violência…

O MST, a partir da luta pela Reforma Agrária, tem demonstrado o potencial de organização quando aliamos a defesa dos direitos fundamentais a um projeto popular dos trabalhadores. Em toda a nossa trajetória de luta, somente quando nos organizamos conseguimos romper a cerca dos latifúndios que impedem o acesso às políticas públicas ao povo do campo. Assim é em relação à Reforma Agrária, assim é em relação à educação.

No conjunto das ações que o Movimento desenvolve, a luta pela educação é uma das prioridades. Nesse sentido, o acesso à escola pública para as crianças, jovens e adultos é a principal bandeira de luta. Por que a escola tem que ser pública? Defendemos que educação é uma construção da humanidade, que não se vende nem se compra.

Um elemento importante para essa discussão é o tema do transporte escolar. Por que a escola não pode estar no campo? Uma escola do campo pode corresponder à realidade dos jovens que vivem nas áreas rurais. Além disso, os educandos teriam mais tempo para estudar, em vez de aguardar passar o ônibus e perder muito tempo no trajeto de
ida e volta. Não podemos cair no debate imposto aos jovens dos assentamentos de defender ou não o transporte escolar que leva os educandos para uma escola fora do campo. O debate é outro.

Isso acontece porque o Estado alega, para fechar as escolas no campo, que há um número pequeno de educandos. Por isso, não compensa financeiramente para o Estado. Só que um dos principais problemas para a baixa qualidade das escolas das cidades é o excesso de alunos. Estar nas aulas mas não ter atenção necessária do professor e não aprender é um problema tão grande quanto estar fora da escola. Nós temos que nos adaptar ou o Estado deve garantir os nossos direitos? Nesse sentido, nossa pergunta poderia ser: se a educação é um direito garantido em lei, por que uma escola não pode ter poucos educandos? Por que a nucleação não pode estar no próprio campo? Por que precisamos sair do campo quando queremos ir para a universidade?

Educação é um bem da humanidade! Viver no campo já é uma forma de resistir e de lutar, mas principalmente romper o silêncio. O desafio é denunciar a situação e enfrentar a partir da organização e luta.

Com isso, podemos obter conquistas de políticas públicas capazes de legitimar o campo como espaço de vida, de cultura, de lazer, de educação, de profissionalização e produção.

Só que o modelo capitalista de educação defende o conceito de “capital humano”, que faz dos seres humanos apenas mão de obra, força de trabalho a serviço dos interesses dos capitalistas. Os jovens são o alvo principal desse sistema e seu modelo de educação.

Um povo sem educação não tem elementos para compreender a realidade em que vive. Com isso, “serve” apenas para integrar um contingente de pessoas com pouca qualificação. Já aqueles que têm acesso a uma educação restrita ao trabalho reforça a massa de capital humano qualificado ao mercado.

No campo, o projeto capitalista se sustenta nas grandes extensões de terra nas mãos de poucas empresas, que tem o controle da produção. É isso que chamamos de agronegócio. Esse modelo não precisa de escolas nem de políticas públicas, pois nesse projeto não existem comunidades ou assentamentos. Não tem a necessidade de povo. No máximo, gente para trabalhar.

Alguns dados:

Menos escolas, menos estudantes… No meio rural, em 2002, existiam 107.432 escolas. Já em 2009, reduziu para 83.036. Foram fechadas 24.396 escolas, sendo 22.179 municipais.

O número de matrículas no meio rural, nos referidos anos, reduziu de 7.916.365 para 6.680.375 educandos. Um número de 1.235.990 de jovens estão sem escola ou foram obrigados a estudar na cidade.